Quais são as consequências da polarização em nossa sociedade
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Resposta:
Quando se fala da política contemporânea, é muito comum ouvirmos falar também de polarização. Mas, afinal, o que é polarização e por que ela é tão abordada?
Na política, o significado estrito de polarização é simplesmente a divisão de uma sociedade em dois polos a respeito de um determinado tema. Porém, essa palavra tem sido usada de um modo mais negativo: polarização é como chamamos a disputa entre dois grupos que não dialogam entre si, que se fecham em suas convicções e não estão dispostos ao diálogo.
É esse sentido do termo que vamos usar neste artigo, no qual vamos entender o tema desde sua origem até suas consequências para a democracia.
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De onde surge a polarização?
Apesar de ser um fenômeno muito falado hoje em dia, o melhor modo para começarmos a entender a polarização é olhar para trás. Na verdade, bem para trás, em nosso passado como espécie.
Como qualquer outro animal, o corpo do ser humano se modificou ao longo do tempo com um objetivo claro, apesar de inconsciente: adaptar-se às circunstâncias e ao ambiente para sobreviver o maior tempo possível e passar seus genes a seus descendentes. Para cumprir essa missão, algumas atitudes eram úteis e outras, nem tanto. Por exemplo, escalar uma montanha trazia riscos de se ferir e morrer; por isso, nosso cérebro desenvolveu o medo de altura, que tenta nos impedir de correr esses riscos.
Uma das estratégias mais úteis para preservar a si mesmo em tempos remotos era se juntar a outros indivíduos e formar grupos. Com a ajuda de companheiros, era mais fácil conseguir alimentos e se proteger de predadores e adversários.
Porém, existia um preço: para ser aceito em um grupo, era preciso se mostrar digno de confiança, o que por sua vez exigia lealdade. A lealdade era fundamental para que um agrupamento de indivíduos agisse modo coordenado, organizado e comprometido, aumentando, assim, a chance de sucesso na luta pela sobrevivência.
A grande questão é que a lealdade, quando levada a fundo, implica em abrir mão da própria individualidade para aceitar as normas, crenças e ideias do grupo. Afinal, em um mundo como aquele no qual nossos antepassados viveram, ser leal era mais importante do que analisar fatos e ideias de modo crítico e independente.
Com isso, podemos dizer que nosso cérebro foi programado para encontrar uma turma, se adaptar a ela, fazer dela parte de nossa identidade e manter-se fiel ao máximo possível. Dessa forma, sentimos prazer ao agir desse modo, enquanto mudar de ideia e se opor ao grupo com o qual nos identificamos é altamente desconfortável.
Mas fazia sentido: naquela época, era uma questão de vida ou morte. Nossa sobrevivência dependia de ser leal a um grupo e de tratar adversários como inimigos mortais. Hoje em dia, essa estratégia pode trazer consequências negativas.
Por que a polarização é um problema na democracia?
Se o nosso cérebro guarda, até hoje, instintos e inclinações necessários para sua sobrevivência em tempos antigos, o mundo em que vivemos atualmente é totalmente diferente daquele.
Ao longo dos séculos, a humanidade refinou sua organização, entendeu como sociedades funcionam e criou sistemas para organizar o poder de forma mais justa. Uma das inovações foi a democracia.
Por meio da democracia, não seria necessário usar a força para chegar ao poder: a disputa não aconteceria por meio da violência, mas pela discussão de ideias e apresentação de propostas para melhorar a vida de todos. Quem convencesse mais cidadãos e conseguisse mais votos chegaria aos postos de comando.
Não é à toa que a democracia vai muito além do voto. Como apontam Steven Levitsky e Daniel Ziblatt no best-seller “Como as democracias morrem”, ela requer respeito a regras comuns, reconhecimento da legitimidade dos adversários (ou seja, tratá-los como competidores legítimos dentro de uma disputa igualitária), tolerância e diálogo.
O excesso de polarização compromete todos esses quesitos. Em uma sociedade concentrada em dois lados radicalizados, adversários são vistos como inimigos, o diálogo não é incentivado – ou mesmo é condenado – e transgredir as regras parece justificável.
Quem procura se manter fora desses dois grupos, apresentando outras visões e ideias, ou mesmo quem defende que ambos os lados têm suas falhas e virtudes, é tratado como “isentão”. As alternativas que fogem às duas apresentadas acabam sendo invalidadas.