Quais foram os fatos que levaram a mudança do gosto musical dos brasileiros?
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Embora nos dicionários ouvir e escutar apareçam como sinônimas, as palavras podem assumir significados diferentes, sobretudo quando falamos da música inserida em uma fase avançada da indústria cultural. O condicionamento e a nivelação do gosto e até a maneira de pensar formam os hábitos auditivos. Coloca-se então a questão: como fica o ensino de música em uma sociedade imersa numa domesticação sensorial para o consumo de massa?
Para a doutora em musicologia Cristina Camargo, a padronização, a satisfação imediata e o consumo, cada vez mais intenso e tecnológico, geraram um “adestramento na percepção ao promover um estado quase permanente de distração e de entretenimento”. Essa é a avaliação que ela expõe em artigo publicado na Revista da Tulha, ligada ao Departamento de Música de Ribeirão Preto da USP. O texto busca ainda apresentar alternativas para a recuperação de um pensar crítico, passando da escuta distraída a uma escuta concentrada, que “articula, interpreta, compreende e constrói um pensamento a partir do que se ouve”.
Ouvir é um ato involuntário, mas o “o modo como se ouve é particular, singular e consiste na construção interpretativa do ser humano”, afirma a autora. Mas com estereótipos envolvendo constantemente nossos ouvidos, pontua, o que fica é o “reconhecimento do sempre igual, rejeitando aquilo que se diferencia do padrão, da percepção do novo”. Se a sensibilidade é responsável por nossas escolhas, determinando a construção do gosto e de nosso juízo estético, na sociedade capitalista a construção dos hábitos de audição e formação musical está repleta de reflexos condicionados, sendo gerada em padrões:
da repetição (imitação) ao reconhecimento, do reconhecimento à aceitação. Com esse paradigma, não há quem escape da influência e do controle da indústria da cultura”