Português, perguntado por vitoriacarolinpcp6j4, 11 meses atrás

Quais as principais características da literatura de Camões

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Respondido por izamariasouza4peljaq
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Características

Representado sempre com uma pena na destra e uma espada na mão esquerda, poeta, amante, soldado, aventu­reiro, Camões realiza uma admirável síntese da experiên­cia de vida, de seus transes existenciais, com uma sólida cultura humanística, adquirida fora dos círculos letrados, que constelavam em torno de Sá de Miranda e Antônio Ferreira.
Essa fusão de cultura livresca e experiência pessoal intensa e diversificada confere tanto à lírica como à épica de Camões uma forte expressividade. Quando o poeta fala do amor, não está apenas transpondo os modelos de Plotinc e Petrarca; está também refletindo sobre os seus acertos e desacertos amorosos: Isabel (Belisa), Bárbara, infanta D Maria, Caterina (Natércia), Miraguarda, Dinamene, D. Violante e tantas outras, reais ou lendárias. Quando, em O: Lusíadas, descreve o fogo-de-santelmo, ou uma tromba marítima, ou a travessia do Cabo das Tormentas, ou se detém na caracterização da paisagem exótica do Oriente não está apenas recriando as crônicas dos viajantes; está expressando a experiência do navegador que também foi.
Camões desenvolveu, como Sá de Miranda e outros poetas do século XVI, uma produção lírica de duas medidas: a poesia em medida velha e a poesia em medida nova. Se suas redondilhas em motes e glosas são produto refinado de um talento criativo e perspicaz, seus sonetos constituem a mais importante produção lírica em português de todos os tempos — afinal, as soluções rítmicas e rimáticas, o domínio versátil do decassílabo, a fluência sintática que confere raro poder dramático à leitura, a associação inusitada de metáforas e imagens, os temas de uma atualidade surpreendente, fizeram da sonetística camoniana um modelo e uma inspiração para toda a produção poética de nossa língua até hoje.
O tema constante da produção lírica camoniana é o Amor — assim grafado por representar a ideia, a essência, o ser supremo que governa o sentimento amoroso do plano concreto humano. Partindo de uma tensão, o sentimento de amar para Camões vive o conflito equilibrado entre o amor neoplatônico e a sensualidade, tensão inerente a um homem que experimentou amar na vida e, segundo seus biógrafos, amou demais e sofreu em demasia. Dessa tensão surge outra, a certeza de que o mundo vive em desconcerto (desarmonia, contradição) entre aquilo que se deseja alcançar (as expectativas ideais) e aquilo que existe na realidade. A impotência diante da mutabilidade e efemeridade das coisas do mundo e da vida leva ao desengano, à desesperança, completando a visão trágica da existência que nos herdou Camões. A frustração de existir e a impotência perante os mistérios dos sentimentos são o ponto de identificação de Camões com os leitores de todos os tempos.
Essa busca pelo equilíbrio, pela harmonia entre contrários — por meio de imagens inusitadas, de paradoxos, de antíteses e de hipérboles —, aproxima a lírica de Camões de uma tendência do Classicismo do século XVI, chamada de Maneirismo.
Para Camões, a obtenção de uma expressão de equilíbrio, mesmo entre coisas paradoxais, é resultado de muito esforço poético, que combina saber(conhecimento de mundo, de cultura e do passado literário), engenho (talento poético, capacidade criadora, inteligência, gênio) e arte (domínio das técnicas de fazer versos e dos usos da língua em suas potencialidades significativas).
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