História, perguntado por filipefelix, 1 ano atrás

quais as caracteristicas de solomo northup

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Respondido por VitorPzr
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Solomon Northup, um cidadão livre do estado de Nova York, após aceitar um emprego para se apresentar junto com alguns músicos em Washington, foi sequestrado e vendido como um escravo em New Orleans. E, por doze anos, como sugere o título da narrativa, ele ocupou essa posição em diversas fazendas da Louisiana.

Doze Anos de Escravidão é o relato desse período. Mas, ao mesmo tempo em que não se desvia nem por um segundo da vida de Northup e da escravidão como ele a conheceu, esse ainda é um livro de importância e peso histórico, que te dá uma ideia muito mais ampla do que realmente acontecia no sul dos Estados Unidos (e possivelmente também em escala global) no período em que ter escravos não só era permitido por lei, mas também visto pelos homens brancos como uma espécie de direito divino.

Como todo relato autobiográfico, o livro, em algumas passagens, assume um tom sentimental, de quem retrata os fatos por uma ótica pouco imparcial. Pode-se, por vezes, ter a impressão de que Solomon fala muito mais em nome dos seus objetivos pessoais do que de uma classe. Mas, conforme o relato de Northup avança, mesmo que ele opte pelo uso da primeira pessoa e não tente se aprofundar em reflexões sobre o sistema do qual foi vítima, o autor acaba falando em nome de todos aqueles que cruzaram o seu caminho e não tiveram a mesma sorte do que ele. Isso acontece quando ele descreve, com realismo e detalhes que tornam a violência de suas páginas algo gráfico, os trabalhos forçados e os castigos físicos sofridos por ele e seus companheiros da fazenda de Epps (na qual ele passou dez dos doze anos em que viveu como um escravo).

A honestidade e o tom destemido usado por ele para descrever as passagens em que sofre com a violência e a ira de seu senhor – assim como aquelas em que vê os seus companheiros sofrendo – fazem desnecessário qualquer aparato teórico ou discussão política para justificar o erro de um sistema que trata seres humanos como objetos e sequer possui argumentos, ainda que irracionais e ruins, para se justificar – o que fica claro especialmente por meio da discussão entre Bass e Epps, presenciada por Solomon nos anos finais de seu cativeiro.


Mas mesmo que Doze Anos de Escravidão conte com todas essas descrições que embrulham o estômago, o que marca de verdade na obra passa longe de ser o seu aspecto violento. O que fica, ao fim da leitura, é a maldade que escorre de cada fala direcionada aos negros; é o fato de que, um dia, seres humanos foram considerados animais ao ponto de algumas leis não valerem para eles porque não se tratava de pessoas (entre essas leis, Solomon destaca uma, bastante curiosa, a respeito do casamento, segundo a qual os escravos poderiam se casar com quantas pessoas quisessem); e, principalmente, a gratidão expressa por Solomon quando se encontra com um senhor que não é adepto dos castigos físicos.

Essa última característica citada, entre todas, é a que mais grita nos relatos do autor em relação ao tempo que passou servindo a William Ford, o primeiro senhor de escravos a compra-lo dos comerciantes de New Orleans. Solomon Northup fala em um tom carinhoso a respeito e Ford. Ele descreve o tempo que passou na fazenda do homem como uma época feliz e, em determinado ponto, diz que, caso sua família estivesse mais próxima, ele poderia servi-lo para o resto da vida e abrir mão da sua liberdade. Isso nos deixa ver que qualquer tratamento mais humanizado, ainda que ele ainda estivesse numa posição tão coisificada quanto na fazenda de Epps (o que é evidenciado, especialmente, pela passagem em que, cheio de dívidas, Ford concorda em vender Northup para Tibeats), faz diferença para quem sofre diariamente e fecha os olhos dessas pessoas para os horrores de ainda não possuir a sua liberdade – o que, talvez, seja tão brutal quanto castigos físicos.

E é por trazer todos esses ingredientes que Doze Anos de Escravidão acaba por funcionar como muito mais do que uma autobiografia. Solomon Northup pode ter pensado somente em contar a sua história mas ele, com certeza, foi além. Porque ao terminar a leitura da obra de Northup, é inevitável começar a refletir sobre uma série de questões que, embora tenham sido amenizadas consideravelmente nos tempos em que vivemos, ainda se fazem extremamente atuais e pertinentes. E o fato de ter escrito um livro que, mais de duzentos anos depois, ainda é capaz de provocar reflexão (e que com a ajuda do filme de Steve McQueen acabou trazendo à luz uma série de questões que vão além daquilo que é exposto nas telas ou nas páginas), é louvável e faz dele uma obra muito maior do que Northup pode ter pensado em escrever.
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