Preciso de uma resenha critica do livro meu pé de laranja lima, agradeço
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Resposta:
Esta é uma história de falta.
Falta de carinho, de atenção, de compreensão, de limites e de paciência. Ainda assim, também é uma história de excessos — de muitos: de agressividade, de injustiça, de crueldade, de desrespeito e de realidade.
Na história de O Meu Pé de Laranja Lima (1968), escrita por José Mauro de Vasconcelos, Zezé, o protagonista, é uma criança que precisou crescer cedo demais. Uma das caracterizações mais utilizadas para descrevê-lo é o estado “precoce” de sua mente. Ora, uma criança de (quase) seis anos que aprende a ler sem nunca receber uma instrução é como um passe de mágica. Mas nós, leitores, sabemos que se trata de uma genialidade de poeta — coisa que o próprio Zezé gostaria de ser (pelo menos no início do livro).
Essa também é uma história que pulsa morte, mas não só a física. É morte de pensamento, de imaginação. No desenrolar da obra, José (nome do protagonista) quer ser rico, e não mais poeta, para não viver em uma realidade que o consome de dentro para fora.
Esse sentimento é fruto de abuso — que está bem longe de ser uma das ideias mirabolantes, extremamente criativas e engraçadas do garoto. O Zezé, ao longo da história, é moldado pela realidade em que vive: vai se tornando mais agressivo quando necessário e mais quieto quando lhe convém, porém, acima de tudo, ele é quebrado por uma vida de pobreza, falta de amor e muita pancada. E isso, sem dúvida, é algo que permeia a vida de milhares de Zezés pelo Brasil.
O José vive numa casa pequena com um pai desempregado e que, com frequência, desaparece para gastar o pouco que tem com jogos e bebida. A mãe é uma condenada ao trabalho excessivo e, por isso, foi acometida pela absoluto mal do cansaço. A irmã mais velha é negligente ao ponto de ser ridícula; o irmão mais velho só tira proveito da inocência do pequeno. Existem, sim, figuras dispostas a ajudá-lo, como a irmã Glória e o caçula Luís, mas não é o suficiente.
É dessa realidade que Zezé foge, e o faz externando seus desejos mais íntimos. Esses desejos, de modo geral, sempre voltam-se para a ideia de amizade. É uma constante procura por alguém que seja seu confidente e, ao mesmo tempo, demonstre um mínimo de carinho por ele. É assim que surgem os vários Lucianos — que são morcegos com os quais Zezé brinca. É assim que ele, ao ver uma meia velha ou um galinheiro, enxerga uma cobra atrevida e um enorme zoológico.
Nesse caminho, Zezé conhece seu primeiro grande amigo: uma árvore pequenina de laranja lima — que é batizada de Minguinho. Uma projeção criativa de si mesmo, em que os dois nunca discordam, sabem tudo um do outro. O confidente perfeito. Minguinho, assim como Zezé, começa pequeno e lúdico, crescendo com o avançar da história e se tornando adulto, tendo a primeira flor e, depois, morrendo — uma analogia interessantíssima sobre a imaginação do menino poeta. Começa pequena, forte e resistente, afinal o pé de laranja lima crescera num “valão” (uma espécie de sarjeta em que corre esgoto), depois vai se desenvolvendo, crescendo e, no limite do suportável, gera uma única flor, a “despedida” que Zezé vislumbra quando está de cama e tem a maior de suas “viagens”. É uma flor que representa um fim de vida, mas metafórico. O Zezé está de pé, mas seu espírito foi quebrado. Foi escrito pelo próprio Vasconcelos: “A verdade, meu querido Portuga, é que a mim contaram as coisas muito cedo”.
O tal do Portuga é tão importante quanto a árvore. Batizado de Manuel Valadares, ele tinha um carrão, uma casa grande e roupas legais. Chamava atenção quando passava, atiçando a curiosidade do menino. O Portuga se tornou a figura paterna da história. Ele é o amigo que Zezé sempre quis ter e, ao mesmo tempo, tinha a fala, o toque e o carinho que Zezé desejava que o verdadeiro pai tivesse.
Os dois passam muito tempo conversando sobre tudo, tem comida e brincadeira e dá até para andar no carrão. Zezé não precisa criar um amigo imaginário agora que tem um verdadeiro. É ÓBVIO que a árvore ficou enciumada e precisou de um chamego para perdoar.
Manuel leva o José para cá e para lá, dando a ele comida, carinho e um sorriso no rosto. Isso para a criança é mais que o suficiente. Era tanto amor pelo Portuga que quase rolou adoção, mas Zezé nunca suspeitou do Mangaratiba.
Critica feita por: Natan Cauduro
Estudante de Jornalismo colecionando histórias.