Português, perguntado por cleitinho1221, 8 meses atrás

Preciso de uma crônica NARRATIVA, com até 30 linhas. Me ajudem por favor, preciso dela escrita para dar crl+c.


nandalopess67: que tema
cleitinho1221: de sua escolha, so precisa ser narrativa

Soluções para a tarefa

Respondido por nandalopess67
0

A SINETA  

Gostaria de lembrar daqueles tempos. Dos dias muito frios de inverno, da garoa fina que caía e gelava minha alma de criança, minhas pernas finas e brancas que tremiam no rigor do inverno sem calças compridas, proibidas pelas rígidas regras da escola ainda fascista.

Estas reflexões me chegam trazidas pela visão da sineta depositada sobre a mesa do antiquário que eu bisbilhotava para matar o tempo que agora tenho de sobra.

O sino que chama os empregados, um símbolo esquecido da rígida divisão de classes que persiste no país, embora a sineta tenha caído em desuso.

Ao vê-lo me lembrei daquela tarde, na casa de Lívia, uma colega de curso primário. Sua família tinha vindo da Itália. Aristocratas falidos, mas isso eu não sabia naquela época.

Fora convidada para um chá da tarde. A velha casa, com seus móveis de época, estava na penumbra. A mãe, cheia de joias, me recebeu num tubinho preto. Tinha mãos de fada, sem sinal de terem passado pela cozinha.

Ela usava colar de pérolas, perfume forte e falava com sotaque que hoje sei ser o italiano de Milão.

Tudo ali era formalidade, tão diferente da minha casa também italiana, mas de gente do sul, simples, honesta, barulhenta, intensa.

Nos sentamos na sala de estar. Falamos da escola, das professoras. Mãe e filha contaram dos planos de viajar para a Itália de navio, nas férias.

Meu coração invejava aquela cena, aquela mãe e principalmente aquela viagem distante.

Foi quando a mãe fez soar a tal sineta de prata, até então repousada, inerte, na bandeja igualmente de prata, que brilhava como um espelho.

Em resposta imediata ao tilintar da sineta, surgiu uma empregada toda engomada, traje preto completo, com avental e casquete de renda branca prendendo os cabelos.

Serviu-nos o chá com mãos cobertas por imaculadas luvas brancas. O som da sineta, a visão das luvas, a formalidade da cena, o ridículo daquela farsa extemporânea apagou de um só golpe o meu fascínio.

E me deu a certeza sobre de que lado eu estava na História.


cleitinho1221: obrigada
Perguntas interessantes