Preciso da interpretação/análise deste soneto Parnasianista: Agora é tarde para novo rumo Dar ao sequioso espírito; outra via Não terei de mostrar-lhe e à fantasia Além desta em que peno e me consumo. Aí, de sol nascente a sol a prumo, Deste ao declínio e ao desmaiar do dia, Tenho ido empós do ideal que me alumia, A lidar com o que é vão, é sonho, é fumo. Aí me hei de ficar até cansado Cair, inda abençoando o doce e amigo Instrumento em que canto e a alma me encerra; Abençoando-o por sempre andar comigo E bem ou mal, aos versos me haver dado Um raio do esplendor de minha terra. (Poesias, 4ª série, 1928.) Muito obrigada!
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Explicação:
Parnasianismo
Por Luiza Brandino
O parnasianismo nasceu na França, em 1866, com a publicação Parnasse Contemporain (“Parnaso Contemporâneo”) e teve como prioridades o culto à forma, a “arte pela arte”, a objetividade temática e o distanciamento de questões de cunho social. Assim como o realismo, foi um movimento de oposição ao romantismo, que já estava em franco declínio.
Contexto histórico
Contemporâneo das escolas realista e naturalista, o parnasianismo é um herdeiro das escolas cientificista, determinista e positivista do último quarto do século XIX. À época, popularizavam-se as ideias positivistas de Auguste Comte, que exaltavam o método científico como o único meio de se chegar ao conhecimento e ao progresso.
A burguesia industrial consolidava-se no poder, ocasionando o surgimento de um proletariado explorado e, por consequência, da luta de classes. Temas relacionados a acontecimentos sociais e históricos, entretanto, não eram abordados pelos autores parnasianos.
Recorte do afresco “Parnaso”, de Rafael Sanzio, no Palácio do Vaticano (1511).
O nome do movimento remete ao monte Parnaso, na Grécia Antiga, morada de Apolo, o deus inspirador dos artistas e dos poetas, patrono da beleza ideal. Foi, portanto, uma tendência literária que valorizava e retomava elementos da Antiguidade Clássica.
Características do parnasianismo
Rigor formal: descartaram os versos livres do romantismo e substituíram-nos por métrica e rima regulares, especialmente versos alexandrinos (doze sílabas métricas) ou decassílabos (dez sílabas métricas);
“A arte pela arte”: a produção artística não deve ser útil, mas pura, alheia e erudita, um culto ao belo, à perfeição, sem se ocupar dos problemas da realidade;
Valorização e enobrecimento do artista: o poeta é comparado a um artífice da palavra, um ourives, responsável por lapidar o texto tal como se lapida uma pedra em estado bruto para que se torne uma joia;
Distanciamento da linguagem oral: buscando as formas clássicas (como o verso alexandrino e a presença de deuses da mitologia greco-romana);
Inversão sintática: (como “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / de um povo heroico um brado retumbante” em lugar de “As margens plácidas do Ipiranga ouviram um brado retumbante de um povo heroico”);
Vocabulário acurado e complexo: palavras pouco populares, elitização da linguagem, poesia como aristocratização espiritual;
Afastamento das questões reais do presente: preferência por temáticas reflexivas e universais, descrições de objetos e de cenas da natureza;
Impessoalidade: em oposição à subjetividade acentuada do romantismo.
Leia mais: Rimas, sílabas métricas e versificação: essenciais para a poesia parnasiana
Parnasianismo no Brasil
O Brasil dos anos 1800 foi marcado por intensa influência da cultura francesa. O abandono do estilo romântico preconizado pelos parnasianos tencionava equiparar a produção artística brasileira àquela feita em Paris.
A tendência literária importada pelos parnasianos vinha acompanhada de outro ideal importante para o entendimento do Brasil do final do século XIX: o positivismo. Escola filosófica de Auguste Comte, considerado o pai da Sociologia, preconizava o progresso científico como o principal horizonte da humanidade, que, por sua vez, também seria regida por leis naturais e positivas, como as leis da Física.
O positivismo foi muito popular entre os intelectuais da época e, principalmente, entre os militares que integravam o movimento republicano. Os dizeres “Ordem e progresso”, que compõem a Bandeira Nacional, são inspirados em uma citação de Comte: “O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”.
Os poetas parnasianos, em sua maioria, também eram republicanos. A partir de 1889, o parnasianismo tornou-se um método de composição “oficial” no Brasil: o Hino Nacional Brasileiro, o Hino da Proclamação da República e o Hino à Bandeira do Brasil são composições parnasianas.
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