Em março de 2007, o jornal Folha de S. Paulo convidou 200 personalidades brasileiras a
dizer quem julgavam haver sido o “maior brasileiro de todos os tempos” e Getúlio Vargas foi
o escolhido. O resultado não foi surpresa, porque vejo Vargas como o estadista do Brasil no
século XX; na nossa história, só a figura de José Bonifácio de Andrade e Silva com a dele se
ombreia. O valor desse tipo de pesquisa é relativo, dada a legitimidade discutível do
‘eleitorado’, e o caráter subjetivo do voto, mas mesmo assim o resultado é significativo. E
também o é o fato de que o segundo colocado na pesquisa foi Juscelino Kubitschek, o
presidente a quem coube completar a tarefa iniciada por Vargas. Ao escolherem os dois
grandes presidentes, os pesquisados estavam também reconhecendo que o grande momento da
história brasileira foi de 1930 a 1960.
A figura e a contribuição de Getúlio Vargas já foram analisadas com competência por
historiadores e biógrafos, de forma que não cabe fazer uma outra análise histórica de seu
governo com fatos e citações. Não me parece relevante discutir a política econômica de
Vargas, porque esta já foi amplamente tratada por outros autores.1
Não é, também, meu
objetivo fazer um perfil com a enumeração de suas qualidades e defeitos, de seus muitos
acertos e muitos erros. Parece-me, todavia, que há uma abordagem que poderia ser útil: a do
ensaio de teoria política. Importa saber como a ação política de Vargas se relacionou com a
construção da Nação e do Estado brasileiro, com o desenvolvimento econômico do país e a
Revolução Capitalista, e, finalmente, com a transição de um Estado oligárquico para um
democrático. Por que sua figura é tão importante para os brasileiros, apesar de haver
governado o Brasil de forma autoritária? Por que considerá-lo um estadista? Terá sido porque
comandou a industrialização e a Revolução Nacional e Industrial brasileira,2
ou teria sido ele
apenas um político contraditório, como alguns propõem, ou um líder populista que enganava
o povo, como outros sugerem