porque os indígenas não usava essas letras flr
Soluções para a tarefa
Pero de Magalhães de Gândavo publicou duas obras que pare-
cem não ter nenhuma relação entre si, as Regras que ensinam a ma-
neira de escrever e a ortografia da língua portuguesa (1574) e a História
da província Santa Cruz (1576).1
Em geral, os estudiosos da evolu-
ção do idioma não se interessam pela segunda, e os historiadores da
colonização do Brasil mal se dão conta da existência da primeira.
No entanto, é sugestivo que um tratadista de ortografia esteja na
origem do lugar-comum sobre as supostas limitações fonéticas dos
índios sul-americanos, ao escrever:
A língua de que usam toda pela costa é uma [...]. Carece de
três letras, convém a saber, não se acha nela f, nem l, nem R,
cousa digna de espanto, porque assi não têm Fé, nem Lei,
nem Rei: e desta maneira vivem desordenadamente sem
terem além disto conta, nem peso, nem medido (História,
cap. 10, fl. 33v.).
O jogo de correspondências fônico-morais fez fortuna. Depois
de Gândavo, foi retomado quase sem variação por diversos auto-
res, como Gabriel Soares de Sousa (1587), Ambrósio Fernandes
Brandão (1618), fr. Vicente do Salvador (1627), o pe. Antônio Vieira
(1662) e o pe. Simão de Vasconcelos (1663), entre outros.2
Ao que
parece, o livro de Gândavo chegou às mãos do jesuíta bergamasco
Giovanni Pietro Maffei, que experimentou a agudeza em latim, e
assim franqueou seu acesso a outras línguas.