Português, perguntado por elaine717, 11 meses atrás

porque na sociedade retratada no texto "admirável mundo novo" o amor é a natureza é inadequado aos indivíduos da casta Delta?​

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Respondido por emanueldaanunciacao
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Admirável Mundo Novo me deixou inquieta assim como 1984 de Orwell. Ainda que este último tenha me afetado de forma bem mais opressora, Huxley não ficou muito atrás. Já nos primeiros capítulos o autor nos apresenta um mundo inimaginável (porém provável) onde as pessoas são condicionadas biologicamente e psicologicamente a existirem em concordância com as leis e normas sociais da época que não possuíam as éticas religiosas e apegos morais que regem a nossa atual sociedade. Quando algum indivíduo desse futuro sente desconforto, dúvida ou incerteza, consome uma droga chamada soma que dissipa esses problemas e deixa a pessoa feliz. Além disso a sociedade é organizada por castas e os indivíduos já são atencipadamente determinados e condicionados a serem parte de uma delas.  

No início do livro é mostrado, como exemplo, o condicionamento de crianças da casta Delta, uma das mais baixas, onde as crianças de oito meses levavam choques ao se aproximarem de livros. A lição tinha o intuito de criar um ódio instintivo ao livros que duraria a vida toda, pois não se podia permitir a pessoas de casta inferior desperdiçarem o tempo da Comunidade com livros, além de haver sempre o perigo de lerem coisas que provocassem o indesejável descondicionamento de alguns dos seus reflexos. Simplesmente chocante. Informações tão chocantes como esta, ou até piores já são expostas logo nos primeiros capítulos!

O conceito de família, pai, mãe, irmãos são vistos como vulgares e inomináveis para estes novos indivíduos. O governo se opõe a tudo que é intenso e prolongado, por isso não há namoro ou casamento, ou qualquer coisa que possa fazer os indivíduos sofrerem emoções violentas. Como o corpo necessita da adrenalina destas sensações, o governo distribui drogas que causam o efeito no organismo sem que assim seja necessário o sofrimento. Além disso, o governo proporciona algum lazer, como os cinemas onde a platéia, conectada a terminais sensoriais, acompanham os filmes conhecendo as sensações, o paladar e os cheiros que saem diretamente da tela.  

Nesta sociedade futurista, tudo é resolvido com o uso da droga SOMA, distribuída também pelo governo a todos os indivíduos que estejam com depressão, dúvidas e frustrações em relação à vida. As pessoas são sempre felizes, têm tudo que desejam, não tem medo da morte e nunca adoecem.  

Neste contexto somos apresentados ao personagem Bernard Marx. Um indivíduo da casta Alfa Mais, a mais alta, que se sente insatisfeito com o mundo onde vive. Grande parte se deve ao fato de ser diferente fisicamente dos outros indivíduos de sua casta, mais altos e mais bonitos do que ele. Ele se apaixona por Lenina, uma mulher da Casta Beta Mais, mas não quer ter apenas um relacionamento superficial com ela, como é o imposto pela sociedade. Bernard é psicólogo e começa a questionar até que ponto a felicidade e o comodismo daquela sociedade é realmente bom o suficiente para ser feliz. Em uma viagem à trabalho para uma espécie de reserva histórica, onde pessoas vivem como no passado, aos moldes da antiga sociedade (que seria a nossa atual), ele encontra uma mulher que fazia parte da civilização (que é como chamam o futuro condicionado em que vivem) e seu filho, John.  

Para a civilização, conceber de forma natural é um ato vulgar e inaceitável, mas Bernard vê uma possibilidade de conquistar o respeito dos indivíduos de sua casta, se levar ambos para a civilização e apresentá-los como exemplares dos seres selvagens (como chamam os que ainda vivem no passado). Linda é, desde sua chegada, rejeitada pela sociedade por ser uma mãe natural e além disso não ter a estética e beleza das mulheres geradas na civilização. John também é visto como algo berrante, mas cria um certo fascínio e curiosidade entre os civilizados.

O livro possui uma mensagem muito profunda e acho importantíssima a sua leitura, assim como 1984 de Orwell. Afinal, não é tão improvável que cheguemos a um futuro desse tipo. Fiquei bastante impressionada e admirada da genialidade de autores como Huxley que escreveram sobre temas tão atauis há muitos anos atrás, afinal o livro foi publicado em 1932. Gostei muito também das ligações que o autor faz, através do personagem John (o Selvagem) das passagens da história com citações do autor William Shakespeare que inspirou inclusive o título do livro, pois é uma das fala da personagem Miranda do livro Tempestade.  

Também é bem interessante perceber as ligações que Huxley faz com personagens reais, como é o caso de Henry Ford, que na sua obra se transformou numa figura messiânica para o Estado. Os indivíduos de O Admirável Mundo Novo trocam os comuns, para nós, Oh, Senhor, Nosso Senhor e Pelo amor de Deus por Oh, Ford, Nosso Ford e Pelo amor de Ford. Algumas vezes Freud é citado no lugar de Ford, remetendo a ligação entre psicanálise freudiana e o condicionamento humano.

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