História, perguntado por marcmangas, 10 meses atrás

por que os árabes condenavam as Cruzadas?

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Respondido por carloshgustavop97m67
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Nestes tempos em que o imperialismo acusa a tudo e a todos de terrorismo, em que tenta vincular, de modo torcido e generalizador, o povo árabe com a imagem do terrorista, do bárbaro1 , do fanático,do impiedoso, nada mais interessante do que ler As cruzadas vistas pelos árabes , do professor Amin Maalouf. Editada na França em 1983, onde ficou várias semanas entre os mais vendidos. A obra foi publicada no Brasil em 1988 e não teve grande repercussão.

Apresentamos a seguir o capítulo 3 do livro, Os canibais de Maara, resumido e adaptado por Rosana Bond. 

Só para relembrar: as chamadas Cruzadas, num total de oito, foram convocadas pelos papas a partir do século XI "para servir a Deus" contra os "infiéis muçulmanos". Realizadas entre 1095 e 1291, sob o símbolo de uma cruz branca, tiveram também um objetivo bem menos "santo ": o lucro, pilhagem das cidades, o saque, a tomada de pontos comerciais estratégicos (como o porto de Zara, no Adriático), a imposição dos grandes negócios de venezianos e genoveses. Tudo isso canalizou riquezas para os cofres papais e das classes dominantes da Europa. 

A derrota dos cruzados ocorreu a partir de 1244, quando perderam definitivamente Jerusalém e em 1291 quando os árabes retomaram Acre, pondo fim a dois séculos de selvageria econômico-religiosa ocidental em terra alheia.

Os canibais de Maara

Eu não sei se o domicílio onde nasci se trata de um pasto de bestas selvagens ou de minha casa!

Esse grito de aflição de um poeta de Maara não é um simples recurso retórico. Temos infelizmente que tomar suas palavras ao pé da letra e perguntar-nos com ele: o que aconteceu de tão monstruoso na cidade síria de Maara no final do ano 1098?

Até a chegada dos franj (os árabes chamavam os cruzados de franj, provavelmente um termo vindo de franc — francos, franceses), os habitantes viviam pacificamente ao abrigo de sua muralha. Os vinhedos, os campos de oliveiras e pés de figos forneciam-lhes uma modesta prosperidade. O orgulho de Maara era ser berço de uma das maiores figuras da literatura árabe, Abul-Ala al Maari, morto em 1057. Esse poeta cego, livre-pensador, ousara atacar os costumes da época. Era preciso audácia para escrever:

Os habitantes da terra dividem-se em dois grupos,
Os que têm um cérebro, mas não possuem religião,
E aqueles que têm religião, mas não têm cérebro.

Quarenta anos após sua morte, um fanatismo vindo de longe viria, aparentemente, dar razão ao poeta de Maara. Nos primeiros meses de 1098, os habitantes da cidade acompanharam com preocupação a batalha de Antioquia, a três dias dali. Após a vitória dos franj, estes vieram saquear alguns vilarejos vizinhos e Maara fora poupada. Mas algumas famílias preferiram fugir para lugares mais seguros.

Seus temores foram justificados quando, no final de novembro, milhares de guerreiros francos cercaram a cidade. A maioria dos habitantes não teve escapatória. Maara não possuía exército, tinha apenas uma milícia urbana à qual se juntaram centenas de exultante.

Os francos retomam sua marcha ao sul. Passam defronte de Trípoli com uma lentidão inquietante... mas não param. Seguem em frente e alcançam Nahr el-Kalb, o "Rio do Cachorro". Ao transpor o rio, colocam-se em estado de guerra com o califado do Egito. 

Anos antes, porém, o homem forte do Egito, o corpulento Al-Afdal Chahinchah — um escravo de 35 anos que dirigia sozinho a nação egípcia de 7 milhões de habitantes — ficara satisfeito com a chegada dos cavaleiros francos na cristã Constantinopla.

Alguns dizem que quando os senhores do Egito viram a expansão do império seldjúcida, foram tomados de medo e pediram aos franj que marchassem sobre a Síria e formassem uma barreira entre eles e os muçulmanos. Só Deus sabe a verdade.

Essa explicação de Ibn al-Athir sobre a origem da invasão franca diz muito da divisão que reinava no seio do mundo islâmico entre os sunitas, vinculados ao califado abássida de Bagdá e os xiitas, ligados ao califado fatímida do Cairo.

Na chegada dos ocidentais, em 1097, Al-Afdal tentara até um acordo de partilha: para aqueles, a Síria do Norte; para ele, a Síria do Sul, isto é, a Palestina. Os francos mostraram-se amigáveis com os diplomatas egípcios, chegando até a oferecer-lhe o espetáculo das cabeças cortadas de 300 turcos. Mas, curiosamente, recusaram-se a concluir qualquer acordo.

Como loucos

Em julho de 1098, ao chegar a notícia da queda de Antioquia, o homem forte do Cairo decide agir imediatamente, sitiando Jerusalém. Por vários meses, os acontecimentos parecem dar razão a Al-Afdal, pois tudo se passa como se os franj, ao se deparar com o fato consumado, tivessem renunciado a Jerusalém. Mas quando em janeiro de 1099 os francos retomam sua primitivo, feudalismo, capitalismo, socialismo.
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