poema de Fernando Pessoa
Ela canta, pobre ceifeira
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar
.Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz à o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões p'ra cantar que a vida
Ah! canta, canta sem razão!
O que em mim sente 'stá pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu
!Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
Comprove a impossibilidade de o "eu" ser "inconsciente" e, simultaneamente, ter "consciência disso", relacionando-o com a teoria do fingimento poético
Soluções para a tarefa
No poema, o fingimento poético pode ser perceptível no verso dezessete, verso em que o sujeito poético demonstra seu grande desejo em ser inconsciente como a alegre ceifeira.
Porém, como está sempre a refletir sobre a realidade, ele se encontra em plena consciência de que não consegue ser inconsciente.
Fingimento Poético
O fingimento poético é a capacidade que o poeta tem de transformar a matéria em poema, utilizando a mescla entre o intelecto - a razão - com a imaginação resultando em um produto poético, gerando uma emoção fingida.
Dessa forma, a emoção sentida pelo poeta chega ao poema transfigurada em pensamentos, intelectualizada pelo próprio sujeito poético.
Em outras palavras, a emoção sentida pelo sujeito poético é puramente fingida, pois, mesmo que ele sinta tal dor, ela foi transmutada para o poema através de seu intelecto, deixando, assim, de ser sua.
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