ENEM, perguntado por brendaestefany4408, 11 meses atrás

Pérolas absolutas
Há, no seio de uma ostra, um movimento – ainda que imperceptível. Qualquer coisa imiscuiu-se pela fissura, uma partícula qualquer, diminuta e invisível. Venceu as paredes lacradas, que se fecham como a boca que tem medo de deixar escapar um segredo. Venceu. E agora penetra o núcleo da ostra, contaminando-lhe a própria substância. A ostra reage, imediatamente. E começa a secretar o nácar. É um mecanismo de defesa, uma tentativa de purificação contra a partícula invasora. Com uma paciência de fundo de mar, a ostra profanada continua seu trabalho incansável, secretando por anos a fio o nácar que aos poucos se vai solidificando. É dessa solidificação que nascem as pérolas.
As pérolas são, assim, o resultado de uma contamina - ção. A arte por vezes também. A arte é quase sempre a transformação da dor. [...] Escrever é preciso. É preciso continuar secretando o nácar, formar a pérola que talvez seja imperfeita, que talvez jamais seja encontrada e viva para sempre encerrada no fundo do mar. Talvez estas, as pérolas esquecidas, jamais achadas, as pérolas intocadas e por isso absolutas em si mesmas, guardem em si uma parcela faiscante da eternidade.
(SEIXAS, H. Uma ilha chamada livro. Rio de Janeiro: Record, 2009 (fragmento)).

Considerando os aspectos estéticos e semânticos presentes no texto, a imagem da pérola configura uma percepção que

a) reforça o valor do sofrimento e do esquecimento para o processo criativo.
b) ilustra o conflito entre a procura do novo e a rejeição ao elemento exótico.
c) concebe a criação literária como trabalho progressivo e de autoconhecimento.
d) expressa a ideia de atividade poética como experiência anônima e involuntária.
e) destaca o efeito introspectivo gerado pelo contato com o inusitado e com o desconhecido.

Soluções para a tarefa

Respondido por sabrinasilveira78
15
A metáfora sobre a “pérola”, empregada no texto para definir a arte de escrever, relaciona o tempo que a ostra leva para envolver um grão de areia até transformá-lo em pérola (expresso na passagem “a ostra... continua seu trabalho incansável”), ao processo criativo, “progressivo e de autoconhecimento”, o que indica a alternativa C
Contudo, a alternativa A se fortalece também no texto, uma vez que o sofrimento e o esquecimento ocorrem tanto na criação literária quanto na feitura da pérola, o que se percebe no seguinte trecho: “A arte por vezes também. A arte é quase sempre transformação da dor. É preciso continuar secretando o nácar, formar a pérola que talvez seja imperfeita, que jamaisseja encontrada e viva para sempre encerrada no fundo do mar. Talvez estas, as pérolas esquecidas, jamais achadas, as pérolas intocadas e por isso absolutas em si mesmas, guardem em si uma parcela faiscante da eternidade.”.
Respondido por marcelocurbani13
21

Resposta:

A lógica é sempre, SEMPRE!!!!!, associar o comando às alternativas. Nessa questão, a chave é a soma do elemento estético ao elemento semântico, ou seja, ESTÉTICO = CRIAÇÃO LITERÁRIA, SEMÂNTICO = AUTOCONHECIMENTO. Daí a letra C ser a resposta. Quanto às outras alternativas, observe:

Considerando os aspectos estéticos e semânticos presentes no texto, a imagem da pérola configura uma percepção que

a) reforça o valor do sofrimento e do ESQUECIMENTO para o processo criativo. (o texto de fato aponta que a criação artística é um processo que muitas vezes causa dor, fruto da dor. Até aí, tudo certo. Mas o texto não diz que a criação artística exige esquecimento, apenas aponta que em muitos casos a obra literária não chega ao conhecimento de todos por questões diversas.)

b) ilustra o CONFLITO entre a procura do novo e a REJEIÇÃO ao elemento exótico. (CONFLITO não condiz com o texto. Não há conflito, há exercício de autodefesa. REJEIÇÃO não condiz com o texto. A ostra, por saber que não tem como expulsar o intruso, o aperfeiçoa para que ele possa incorporar-se ao seu próprio mundo).

c)concebe a criação literária como trabalho progressivo e de autoconhecimento.

d) expressa a ideia de atividade poética como experiência anônima e INVOLUNTÁRIA. (O erro da alternativa é o vocábulo INVOLUNTÁRIA. O processo criativo é anônimo, mas o esforço é consciente, voluntário, determinado pela vontade de criar)

e)destaca o efeito INTROSPECTIVO gerado pelo contato com o inusitado e com o desconhecido. (INTROSPECTIVO remete a algo secreto, escondido. A imagem da pérola enquanto metáfora do processo criativo aponta para a produção de uma "joia" cuja finalidade é ser divulgada, exposta, revelada ao mundo, não escondida)

Explicação:

Perguntas interessantes