História, perguntado por biancaalecsandr607, 1 ano atrás

Pela estrada de rodagem da via-láctea, os automóveis dos planetas correm vertiginosamente. Vela o Cordeiro do Zodíaco, perseguido pela Ursa Maior, toda dentada de astros. As estrelas tocam o jazz-band de luz, ritmando a dança harmônica das esferas. O céu parece um imenso cartaz elétrico, que Deus arrumou no alto, para fazer o eterno reclamo da sua onipotência e da sua glória. Este é o estilo que de nós esperam os passadistas, para enforcar-nos, um a um, nos finos baraços dos assobios das suas vaias. Para eles nós somos um bando de bolchevistas das estéticas, correndo a 80 H.P. rumo da paranoia. Somos o escândalo com duas pernas. O cabotinismo organizado em escola. Julgam- -nos uns cangaceiros da prosa, do verso, da escultura, da pintura, da coreografia, da música, amotinados na jagunçada dos Canudos literários da Pauliceia desvairada... [...] Aos nossos olhos riscados pela velocidade dos bondes elétricos e dos aviões, choca a visão das múmias eternizadas pela arte dos embalsamadores. Cultivar o helenismo como força dinâmica de uma poética do século é colocar o corpo seco, enrolado em vendas, de um Ramsés ou de Amnésis, a governar uma república democrática, onde há fraudes eleitorais e greves anarquistas. [...] Não! Paremos diante da tragédia hodierna, a cidade tentacular radica seus gânglios numa área territorial que abriga 600 000 almas. Há na sua angústia e na sua luta odisseias mais formidáveis que as que cantou o aedo cego: a do operário reivindicando seus direitos, a do burguês defendendo sua arca; a dos funcioná- rios deslizando nos trilhos dos regulamentos; a do industrial combatendo o combate da concorrência; a do aristocrata exibindo o seu fausto; a do político assegurando a sua escalada; a da mulher quebrando as algemas da sua escravidão secular nos guníceos (sic) eventrados pelas ideias libertárias post-bellum... Tudo isso – e o automóvel, os fios elétricos, as isomas, os aeroplanos, a arte – tudo isso forma os nossos elementos da estética moderna, fragmento de pedra em que construiremos, dia a dia, a Babel do nosso Sonho, no nosso desespero de exilados de um céu que fulge lá em cima, para o qual galgamos na ânsia devoradora de tocar com as mãos as estrelas! (Disponível em: . Acesso em: 20 jan. 2013)

a) Compare o texto que você acabou de ler com o trecho do Manifesto Futurista reproduzido no capítulo 2 (página 49) e responda: que semelhanças e diferenças há entre eles? b) Como o texto de Menotti Del Picchia traduz as transformações sociais e econômicas que vinham ocorrendo no Brasil no início do século XX? c) A que segmento da sociedade brasileira o texto acima pode ser associado? Justifique sua resposta.

Soluções para a tarefa

Respondido por anapbertho
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Olá,

a) O Manifesto Futurista de 1912 também traz os avanços da época como os automóveis e aviões, as indústrias e o surgimento da classe operária, assim como o texto de Del Picchia. Porém, ele também defende a superioridade do futuro, incentivando o novo e até mesmo o fim de bibliotecas e museus, espaços guardiões da tradição. No caso do texto brasileiro, ele coloca a importância da tradição e problematiza estas mudanças.

b) No texto de Menotti del Picchia, o autor fala dos avanços tecnológicos como a invenção do automóvel, a criação do Movimento Modernista, a expansão das fábricas, a Revolução Russa de 1917 que foi liderada pelos bolcheviques e a luta da mulher por direitos. Nos anos 1920, estes acontecimentos deram o tom das transformações econômicas e sociais.


c) Este texto está associado às camadas mais ricas da sociedade. Isto porque as palavras rebuscadas e o próprio formato escrito poderiam ser acessados pelas classes mais abastadas daquele momento.


Bons estudos!
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