Pechada
Luis Fernando Veríssimo
1 O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já
estava sendo chamado de "Gaúcho". Porque era gaúcho. Recém-chegado
do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.
2 – Aí, Gaúcho!
3 – Fala, Gaúcho!
4 Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A
professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as
diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português.
Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam
formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma
língua, só com pequenas variações?
5 – Mas o Gaúcho fala "tu"! – disse o gordo Jorge, que era quem mais
implicava com o novato.
6 – E fala certo - disse a professora. – Pode-se dizer "tu" e pode-se dizer "você". Os dois estão certos. Os dois são português.
7 O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.
8 Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.
9 – O pai atravessou a sinaleira e pechou.
10 – O que?
11 – O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.
12 A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara.
Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu
corpo.
13 – O que foi que ele disse, tia? – quis saber o gordo Jorge.
14 – Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.
15 – E o que é isso?
16 – Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.
17 – Nós vinha ...
18 – Nós vínhamos.
19 – Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto.
20 A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução
para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito.
"Sinaleira", obviamente, era sinal, semáforo. "Auto" era automóvel, carro. Mas "pechar" o que era? Bater, claro. Mas de onde viera
aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que "pechar" vinha do espanhol e queria dizer bater com o
peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já
ganhara outro apelido: Pechada.
21 – Aí, Pechada!
22 – Fala, Pechada!
2. Releia o conceito de crônica e escreva qual o ponto de partida da crônica “Pechada”.
3. Marque no texto uma fala do narrador e uma de cada personagem, identificando-as.
4. Durante quanto tempo se passa a história?
5. Qual o espaço no qual se passa a história? ,
Soluções para a tarefa
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Resposta:
A)
Explicação:
identifica "pechada" como um caso de estrangeirismo na fala de seu aluno, incorporado à língua portuguesa como empréstimo aceitável da língua espanhola. (EU ACHO) OK
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