Para educar um filho – Rubem Alves
“Era uma sessão de terapia. ‘Não tenho tempo para educar a minha filha’, ela disse.
Um psicanalista ortodoxo tomaria essa deixa como um caminho para a exploração do inconsciente do cliente. Ali estava um fio solto no tecido da ansiedade materna. Era só puxar o fio... Culpa. Ansiedade e culpa nos levariam para o sinistro subterrâneo da alma.
Mas eu nunca fui ortodoxo. Sempre caminhei ao contrário na religião, na psicanálise, na universidade, na política, o que tem me valido não poucas complicações. O fato é que eu tenho um lado bruto, igual àquele do Analista de Bagé. Não puxei o fio solto dela. Ofereci-lhe meu próprio fio.
‘Eu nunca eduquei os meus filhos...’, eu disse.
Ela fez uma pausa perplexa. Deve ter pensado: ‘Mas que psicanalista é esse que não educa seus filhos?’. ‘Nunca educou seus filhos?’, perguntou.
Respondi: ‘Não, nunca. Eu só vivi com eles’. Essa memória antiga saiu da sua sombra quando uma jornalista, que preparava um artigo dirigido aos pais, me perguntou: ‘Que conselho o senhor daria aos pais?’.
Respondi: ‘Nenhum. Não dou conselhos. Apenas diria: a infância é muito curta. Muito mais cedo do que se imagina, os filhos crescerão e baterão as asas. Já não nos darão ouvidos. Já não serão nossos. No curto espaço da infância há apenas uma coisa a ser feita: viver com eles, viver gostoso com eles. Sem currículo. A vida é o currículo. Vivendo juntos, pais e filhos aprendem. A coisa mais importante a ser aprendida nada tem a ver com informações. Conheço pessoas bem informadas que são idiotas perfeitos. O que se ensina é o espaço manso e curioso que é criado pela relação lúdica entre pais e filhos’.
Ensina-se um mundo! Vi, numa manhã de sábado, num parquinho, uma cena triste: um pai levava o filho pra brincar. Com a mão esquerda empurrava o balanço. Com a mão direita segurava o jornal que estava lendo...
Em poucos anos, sua mão esquerda estará vazia. Em compensação, ele terá duas mãos para segurar o jornal.
Fonte: acervo pessoal
Com base nas leituras, analise as afirmativas:
I. O humor da charge se concentra na contradição entre a afetividade exibida em redes sociais e o convívio real entre pai e filho.
II. O autor sugere que os filhos não devem ser educados, pois o tempo é curto e, em poucos anos, eles crescem e não escutam mais os pais.
III. O comportamento do pai da charge se assemelha ao do pai com o filho no parquinho, relatado por Rubem Alves.
IV. De acordo com Rubem Alves, a falta de informações faz com que os pais não saibam educar seus filhos.
É correto o que se afirma somente em
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Resposta:IV. De acordo com Rubem Alves, a falta de informações faz com que os pais não saibam educar seus filhos.
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Rubem Alves reflete sobre a possibilidade de se educar um filho e menciona que aproveitar o momento é essencial a ele (III e IV).
Análise das questões sobre o texto de Rubem Alves
- I. Falso. O texto aborda a ânsia de uma mãe em querer educar seu filho e reflete tal questão junto ao seu psicanalista: o próprio autor.
- II. Falso. O autor sugere que os pais não fiquem passando por cima do tempo e deixem seus filhos aproveitarem a infância, pois a vida já os ensinará.
- III. Verdadeiro. Em ambas as histórias, o autor reflete sobre a pedagogia na infância e não se limita a dizer que as crianças não precisam ter pressa em crescer.
- IV. Verdadeiro. Pais e mães, por não estarem informados nem em consonância com seus filhos, impõem regras excessivas e que acabam com a infância delas em prol de uma educação normativa.
Saiba mais sobre Rubem Alves em: https://brainly.com.br/tarefa/48768825
Anexos:
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