Os tiranos e os autocratas sempre compreenderam que a capacidade de ler, o conhecimento, os livros e os jornais são potencialmente perigosos. Podem insuflar idéias independentes e até rebeldes nas cabeças de seus súditos. O governador real britânico da colônia de Virgínia escreveu em 1671:
Graças a Deus não há escolas, nem imprensa livre; e espero que não [as] tenhamos nestes [próximos] cem anos; pois o conhecimento introduziu no mundo a desobediência, a heresia e as seitas, e a imprensa divulgou-as e publicou os libelos contra os melhores governos. Que Deus nos guarde de ambos!
Mas os colonizadores norte-americanos, compreendendo em que consiste a liberdade, não pensavam assim.
Em seus primeiros anos, os Estados Unidos se vangloriavam de ter um dos índices mais elevados – talvez o mais elevado – de cidadãos alfabetizados no mundo.
Atualmente, os Estados Unidos não são o líder mundial em alfabetização. Muitos dos que são alfabetizados não conseguem ler, nem compreender material muito simples – muito menos um livro da sexta série, um manual de instruções, um horário de ônibus, o documento de uma hipoteca ou um programa eleitoral.
As rodas dentadas da pobreza, ignorância, falta de esperança e baixa auto-estima se engrenam para criar um tipo de máquina do fracasso perpétuo que esmigalha os sonhos de geração a geração. Nós todos pagamos o preço de mantê-la funcionando. O analfabetismo é a sua cavilha.
Ainda que endureçamos os nossos corações diante da vergonha e da desgraça experimentadas pelas vítimas, o ônus do analfabetismo é muito alto para todos os demais – o custo de despesas médicas e hospitalização, o custo de crimes e prisões, o custo de programas de educação especial, o custo da produtividade perdida e de inteligências potencialmente brilhantes que poderiam ajudar a solucionar os dilemas que nos perseguem.
Frederick Douglass ensinou que a alfabetização é o caminho da escravidão para a liberdade. Há muitos tipos de escravidão e muitos tipos de liberdade. Mas saber ler ainda é o caminho.
(Carl Sagan, O caminho para a liberdade. Em “O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro”. Adaptado)
*
1 ponto
A - É correto afirmar que Carl Sagan faz citação das ideias de um governador real britânico para:
B - corroborar as ideias que defende no desenvolvimento do texto.
C - ilustrar a tese com a qual inicia o texto e à qual se contrapõe na sequência.
D - comprovar a importância da colonização inglesa para o desenvolvimento americano.
E - desmistificar a ideia de que liberdade de imprensa pode trazer liberdade de ideias, como defende na conclusão.
F - ironizar ideias ultrapassadas, mostrando, no desenvolvimento do texto, o descrédito de que gozaram em todos os tempos.
Soluções para a tarefa
Resposta:
Resposta C
Explicação:
A alternativa descreve a “dialética” desenvolvida pelo
autor: tese (os riscos do conhecimento da alfabetização,
segundo os tiranos e autocratas); antítese (a relação
entre alfabetização e liberdade na colonização dos
Estados Unidos) e a síntese (que, reforçando a antítese,
enfatiza o elevado custo social e humano do analfabetismo).
Carl Sagan cita as ideias do governador real britânico para ilustrar a tese com a qual se inicia o texto e à qual se contrapõe na sequência.
O texto de Carl Sagan começa falando sobre como a educação é uma ferramenta perigosa para governos autoritários e obscurantistas. Ele então cita um governador real britânico que explicita esse ponto de vista: o governador afirma que escolas e imprensa livre só contribuem para desobediência e heresia.
No entanto, o autor vai se contrapor a essa visão logo em seguida, pregando que a educação é uma ferramenta de liberdade e que uma nação realmente livre precisa ter uma alta taxa de alfabetização.
Mais sobre o tema: https://brainly.com.br/tarefa/26084926