Os automóveis invadem a cidade
Naqueles tempos, a vida em São Paulo era tranquila. Poderia ser ainda mais, não fosse a invasão cada vez maior dos automóveis importados, circulando pelas ruas da cidade; grossos tubos, situados nas laterais externas dos carros, desprendiam, em violentas explosões, gases e fumaça escura. Estridentes fonfons de buzinas, assustando os distraídos, abriam passagem para alguns deslumbrados motoristas que, em suas desabaladas carreiras, infringiam as regras de trânsito, muitas vezes chegando ao abuso de alcançar mais de 20 quilômetros à hora, velocidade permitida somente nas estradas. Fora esse detalhe, o do trânsito, a cidade crescia mansamente. Não havia surgido ainda a febre dos edifícios altos; nem mesmo o “Prédio Martinelli” – arranha-céu pioneiro em São Paulo, se não me engano do Brasil – fora ainda construído. Não existia rádio, e televisão, nem em sonhos. Não se curtia som em aparelhos de alta-fidelidade. Ouvia-se música em gramofones de tromba e manivela. Havia tempo para tudo, ninguém se afobava, ninguém andava depressa. Não se abreviavam com siglas os nomes completos das pessoas e das coisas em geral. Para que isso? Por que o uso de siglas? Podia-se dizer e ler tranquilamente tudo, por mais longo que fosse o nome por extenso – sem criar equívocos – e ainda sobrava tempo para ênfase, se necessário fosse.
Os divertimentos, existentes então, acessíveis a uma família de poucos recursos como a nossa, eram poucos. Os valores daqueles idos, comparados aos de hoje, no entanto, eram outros; as mais mínimas coisas, os menores acontecimentos, tomavam corpo, adquiriam enorme importância. Nossa vida simples era rica, alegre e sadia. A imaginação voando solta, transformando tudo em festa, nenhuma barreira a impedir meus sonhos, o riso aberto e franco. Os divertimentos, como já disse, eram poucos, porém suficientes para encher o nosso mundo.
Zélia Gattai. Anarquistas, graças a Deus. 11ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1986.
Zélia Gattai faz muitas comparações entre os dias de hoje e o tempo em que era menina. Projete o texto e incentive a turma a procurar essas comparações.
Responda:
a. Como eram os carros? E o trânsito? *
b. Como eram as construções?
*
c. Como era a vida das pessoas? E seus valores? Como se divertiam? *
Soluções para a tarefa
Resposta:
Explicação:
A) Os carros naquele período eram barulhentos e altamente poluentes na cidade de São Paulo.
Na expressão "Naqueles tempos", estas palavras formam um sentido temporal de tempos passados, ou períodos distantes daquele em que a história é contada.
Para a Língua Portuguesa, esta expressão significa contar sobre situações ou histórias passadas. Serve como um modalizador de tempo.
B) As construções daquele período eram altos prédios, como arranha-céus.
Em “o meu apartamento em Ipanema” fica evidente a atual moradia do narrador.
Ele se recorda do seu antigo quintal, que fica na sua casa em Belo Horizonte - Minas Gerais.
C) A vida das pessoas pareciam melhores. Os seus valores eram caracterizados por serem voltados às coisas mínimas, os menores acontecimentos. Se divertiam com brincadeiras simples, como em lagoas ou com poucos objetos.
mais sobre interpretações em: brainly.com.br/tarefa/22840907