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Resposta:
A firme mensagem política do filme de 1981 é reiterada pelas referências diretas aos levantes de trabalhadores no ABC paulista entre 1979 e 1980 e a importantes figuras do sindicalismo como Santo Dias (através do personagem Bráulio, interpretado por Milton Gonçalves); participa do elenco Bete Mendes, integrante da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) na década de 1960, fundadora do Partido dos Trabalhadores e que, no filme, interpreta Maria. Dessa forma, Leon Hirszman insere o filme nos debates políticos da época acerca do futuro das organizações de trabalhadores e do papel e função estratégica da greve.
Não surpreende então que, no vídeo comemorativo produzido pela CUT, cenas de Otávio conversando com Bráulio sobre a iminente greve sejam intercaladas com imagens de arquivo do histórico discurso de Lula aos grevistas em São Bernardo do Campo, montando um quadro político do ano de lançamento do filme. Este quadro, no entanto, é mais complexo do que aparenta, e a evolução do legado de Eles não usam black-tie pode ser entendida através do amadurecimento dos movimentos operários no Brasil e nas diferentes situações políticas e de repressão de cada época em que ressurge.
Existe uma diferença essencial entre o desfecho da peça e do filme: enquanto, em 1958, a greve organizada pelos companheiros de Tião e Otávio é bem sucedida, no filme ocorre o oposto. Os manifestantes são brutalmente reprimidos resultando na prisão de Otávio (algo que já ocorria na peça), na agressão de Maria, grávida, e na morte de Bráulio. Na adaptação de Hirszman a violência do Estado é muito mais presente, reflexo dos 17 anos de ditadura militar. O efeito que essa escolha tem, no entanto, é o de enfraquecer o que era o centro da peça: a forma como o individualismo e o deslocamento de Tião tragicamente o separam de Maria e de sua família. Que a greve não seja retratada de forma tão direta e que não traga consequências tão drásticas às vidas dos personagens serve para realçar as consequências das falhas de Tião.
Ao priorizar os sentidos e os resultados da greve, Hirszman e Guarnieri fundamentalmente alteram o equilíbrio entre o arco de amadurecimento de Tião com a sua traição de classe, e adaptam o enredo a partir das suas próprias experiências políticas dos anos 1970. Ambos foram filiados ao Partido Comunista Brasileiro (apesar de Guarnieri tê-lo deixado após o golpe) desde a juventude. Em 1981 eles ocupavam o ponto de vista então dos militantes experientes, vindos de uma tradição do PCB da década de 40 e 50. Com as grandes greves no final dos anos 1970, sentia-se uma nova demanda dentro da classe trabalhadora, que não se via encaixada nas estratégias e valores das antigas lideranças.