O texto mostra a importância de pensarmos no futuro. Por que é tão importante projetarmos “um amanhã”?
Soluções para a tarefa
Resposta:
de passado é museu.” A expressão, de teor pejorativo, é usada na nossa cultura para condenar o apego ao passado, a supervalorização daquilo que já passou e a dificuldade de seguir adiante. Para quem costuma usar muito a frase, uma advertência: todos nós vivemos de passado. E isso é positivo. Mais que positivo: a capacidade que temos de revisitar constantemente o passado, a partir de nossas memórias, é fundamental para vivermos o presente e projetarmos o futuro. É de acordo com essa projeção para o amanhã, baseada no ontem, que tomamos melhores decisões hoje.
Essa capacidade de representar o passado, o presente e o futuro é obra do córtex cerebral humano, com seu notável número de neurônios inigualado na natureza e organizado em arquitetura complexa, que nos dota de habilidades cognitivas admiráveis e nos permite muito mais do que reagir a estímulos. Graças a ele, temos não só passado e futuro como ainda somos capazes de representar o outro, seus sentimentos, emoções e intenções, o que nos permite viver em sociedade e vislumbrar um amanhã comum.
Mas qual a base dessas habilidades? Como funcionam? De que maneira as usamos? Com que objetivos e resultados? Que futuro podemos construir a partir delas?
Na linha do tempo, o que temos de mais palpável é o presente, nossa experiência empírica do aqui e agora. O presente é obra dos sentidos, que mantêm o cérebro atualizado sobre o que se passa em nosso corpo e à nossa volta e, assim, lhe permite construir e reconstruir constantemente uma representação do real no tempo presente.
Esse processo ocorre em vários níveis, de forma simultânea. Os órgãos dos sentidos, sensíveis a variações de energia no ambiente e no corpo, processam e transmitem informações sobre elas ao cérebro. As regiões sensoriais representam essas variações construindo verdadeiros mapas do ambiente e do corpo que se combinam a outras regiões do cérebro, para criar um mapa único, que guia nossos movimentos e comportamentos. É assim que nossas ações são bem ajustadas ao momento, às circunstâncias atuais, ao presente. Ainda outras regiões do cérebro lançam mão dessas representações do real para fazer uma “representação da representação”, que é como criamos conceitos de algo: a cadeira para a qual viramos as costas, o rosto de quem acabou de sair. Uma vez que esses conceitos podem ser ativados na ausência do objeto externo, temos aqui a base para o pensamento abstrato e também para a evocação do passado e do futuro.
As representações que construímos do mundo exterior, contudo, não são perfeitas, posto que necessariamente limitadas pelos próprios sentidos e influenciadas por nossas expectativas e experiências anteriores. Abelhas enxergam luz ultravioleta, à qual nossos olhos são insensíveis. Cobras detectam radiação infravermelha, enquanto nós precisamos de óculos de visão noturna. Campos eletromagnéticos interagem com nosso corpo, mas não os registramos sensorialmente, como fazem peixes elétricos e pássaros. Ou seja, só captamos parte da informação sensorial do mundo exterior. Além disso, a maneira como interpretamos essas informações sensoriais depende de experiência prévia e estado mental. Uma mesma frase pode ser interpretada de maneiras diferentes por pessoas diferentes, dependendo do seu humor e expectativas; um mesmo objeto pode ser reconhecido mais ou menos rápido, e com mais ou menos detalhes, por pessoas diferentes, dependendo da maior ou menor familiaridade com eles.
Além disso, nossas experiências passadas, nosso estado emocional presente e nosso objetivo para o futuro distorcem o mundo real, ao qual nunca temos acesso de fato. Nossa “realidade” é, na verdade, uma versão particular, personalizada, do mundo real, construída pelo cérebro conforme ele representa o ambiente sensorial. Sendo assim, mesmo vivendo em um mesmo mundo, pessoas diferentes compartilham realidades e presentes diferentes.
À primeira vista, o fato de nosso sistema sensorial ser limitado e influenciável pode parecer uma desvantagem. Mas não é. Detectar estímulos do ambiente e a eles responder objetivamente é uma coisa tão simples que até bactérias e amebas podem fazer, e com uma célula só. Mas esse não é o tipo de vida que a gente leva. Nossas ações são direcionadas, e não apenas responsivas. Um indivíduo que só detectasse estímulos e a eles respondesse, ainda que de forma coordenada e organizada, viveria eternamente no presente, incapaz de enxergar para trás ou para a frente no tempo. Não teria a menor capacidade de reviver experiências do passado e muito menos de usar essas experiências a fim de fazer planos para o futuro. Pior ainda, passaria o tempo correndo atrás dos acontecimentos, já que a representação que o cérebro cria a partir das sensações é necessariamente defasada em ao menos um décimo de segundo. [1]