O texto abaixo foi escrito por um dos mais importantes cronistas brasileiros, o capixaba Rubem Braga.
CARTA AO PREFEITO
Rio de Janeiro, junho de 1951.
Senhor Prefeito do Distrito Federal
Eu sou um desses estranhos animais que tem por “hábitat” o Rio de Janeiro; ouvi-me, pois, com o devido
respeito.
Sou um monstro de resistência e um técnico em sobrevivência – pois o carioca é, antes de tudo, um forte.
Se, às vezes, saio do Rio por algum tempo para descansar de seus perigos e desconfortos (certa vez inventei
até de ser correspondente de guerra, para ter um pouco de paz) a verdade é que sempre volto. Acostumeime a viver perigosamente. Não sou covarde como esses equilibristas estrangeiros que passeiam sobre os
entre os edifícios. Vejo-os lá de cima, longe dos ônibus e lotações, atravessando a rua pelos ares e murmuro:
eu quero ver é no chão.
Também não sou assustado como esse senhor deputado Tenório Cavalcante, que mora em Caxias e vive
armado; moro no paralelo 38, entre Ipanema e Copacabana e, às vezes, nas caladas da noite, percorro
desarmado várias boates desta zona e permaneço horas, dentro da penumbra, entre cadeiras que
esvoaçam e garrafas que partem docemente na cabeça dos eis em torno. E estou vivo.
Ainda hoje tenho coragem bastante para tomar um ônibus ou mesmo uma lotação e ir dentro dele até o
centro da cidade. Vivo assim, dia a dia, noite a noite, isto que os historiadores do futuro, estupefatos,
chamarão de Batalha do Rio de Janeiro. Já z mesmo várias viagens na Central. Eu sou bravo, senhor.
Sei também que não me resta nenhum direito terreno, respiro o ar dos escapamentos abertos e me banho
até no Leblon, considerado um dos mais lindos esgotos do mundo.; aspiro o perfume da curva do Mourisco
e a brisa da Lagoa e – sobrevivo. E compreendo que, embora vós administreis à maneira suíça, nós
continuaremos a viver à maneira carioca.
Eu é que não me queixo; já me aconteceu escapar de morrer dentro de um táxi em uma tarde de inundação
e ter o consolo de, chegando em casa, encontrara a torneira perfeitamente seca.
Prometeste, senhor, acabar em 30 dias com as inundações no Rio de Janeiro; todo o povo é testemunha
desta promessa e de seu cumprimento: é que atacaste, senhor, o mal pela raiz, que são as chuvas. Parou de
chover, medida excelente e digna de encômios.
Mas não é para dizer isso que vos escrevo. É para agradecer a providência que vossa administração tomou
nestas últimas quatro noites, instalando uma esplêndida lua cheia em Copacabana. Não sei se a zestes
adquirir na Suíça para nosso uso permanente, ou se é nacional. Talvez só possamos obter uma lua cheia
denitiva reformando a Constituição e libertando Vargas.
Mas a verdade é que o luar sobre as ondas me consolou o peito. E eu andava muito precisado.
Obrigado, senhor.
Considerando as informações apresentadas na crônica, avalie as armativas a seguir:
I.O personagem da crônica vive na área urbana, mas especicamente na cidade do Rio de Janeiro, capital do
Brasil na época que foi escrito.
II. Ao nal do texto, o autor diz: “Prometeste, senhor, acabar em 30 dias com as inundações no Rio de
Janeiro; todo o povo é testemunha desta promessa e de seu cumprimento: é que atacaste, senhor, o mal
pela raiz, que são as chuvas. Parou de chover, medida excelente e digna de encômios.” Através desse trecho
é possível perceber que o autor elogia o prefeito, pois, ele apoia o contexto político no qual está inserido.
III. Essa crônica foi escrita em 1951, quando a capital do Brasil era a cidade do Rio de Janeiro. Na época,
segundo o texto, a cidade do Rio de Janeiro apresentava muito problemas ambientais, sociais e econômicos
pelos quais, o autor da carta, culpa a administração política.
IV. Apesar de o texto ser uma crônica, gênero textual que trata de acontecimentos corriqueiros do cotidiano,
ele foi escrito com a estrutura de um bilhete, apresentando local e data, saudação inicial, desenvolvimento
da mensagem, despedida e assinatura do remetente.
Em relação as armativas que condizem com as informações presentes na “crônica”, é correto o que se
arma em:
Marc0s007:
RESPOSTA CORRETA: I e III ( corrigido pelo ava)
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Resposta:
Explicação:
I e lll, corrigindo.
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Em relação às afirmativas sobre a crônica lida, pode-se afirmar que estão CORRETAS as afirmativas I e III.
Crônica "Carta ao prefeito"
- I. VERDADEIRO - O narrador-personagem da crônica reside no Rio de Janeiro ("Eu sou um desses estranhos animais que tem por “hábitat” o Rio de Janeiro"), que em 1951 ainda era a capital do Brasil.
- II. FALSO - Na verdade, o autor não está elogiando a administração do prefeito, mas sim ironizando a situação, pois parar de chover não era bem o que se desejava para resolver o problema das inundações. O ideal seria melhorar as vias da cidade para evitar alagamentos.
- III. VERDADEIRO - O texto revela vários problemas pelos quais passava o Rio de Janeiro, como as inundações, a falta de moradias adequadas, a falta de segurança no trânsito.
- IV. FALSO - Na verdade, o texto tem uma estrutura de carta, não de bilhete, pois contém: local e data ("Rio de Janeiro, junho de 1951"), saudação inicial ("Senhor Prefeito do Distrito Federal"), desenvolvimento da mensagem, despedida ("Obrigado, senhor.") e assinatura do remetente ("Rubem Braga").
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