Filosofia, perguntado por kaiquenmgcorinthians, 10 meses atrás

O texto a seguir é continuação da história da seção Entreatos da aula anterior.

– O senhor já sabe – perguntou Obierika – que Abame não existe mais?

– Como assim? – perguntaram Uchendu e Okonkwo ao mesmo tempo.

– Abame foi completamente arrasada. – respondeu Obierika.

[...]

Bebeu o resto de vinho de palma que havia dentro de seu chifre, e Okonkwo tornou a enchê-lo. Depois, Obierika continuou:

– Durante a última estação de plantio, um homem apareceu na terra deles.

– Um albino. – sugeriu Okonkwo.

– Não, não era um albino. Era um homem completamente diferente. – Bebericou o vinho. – E chegou montado num cavalo de ferro. Os primeiros que o viram fugiram correndo; mas o tal homem continuou no mesmo lugar, acenando para que voltassem. Finalmente, os mais destemidos resolveram aproximar-se e chegaram até mesmo a tocá-lo. Os anciãos consultaram o Oráculo e este declarou que aquele homem estranho causaria a ruína do clã e espalharia a destruição entre eles. – Obierika bebeu de novo um pouco de vinho. – Por isso eles mataram o homem branco e penduraram seu cavalo de ferro na árvore sagrada, pois parecia pretender fugir a qualquer instante, para ir chamar os amigos do tal homem. Esqueci de mencionar uma outra coisa que o Oráculo falou. Ele disse também que mais homens brancos estavam a caminho. Eram gafanhotos, falou o Oráculo, e aquele primeiro homem era o batedor dos demais, enviado pelos seus companheiros para explorar o terreno. Por isso resolveram matá-lo.

– O que foi que o homem branco disse antes de o matarem? – perguntou Uchendu.

– Nada – respondeu um dos companheiros de Obierika.

– Não. Ele disse alguma coisa, só que ninguém entendeu – contou Obierika. – Dava a impressão de falar pelo nariz.

– Um dos refugiados me contou – disse o outro acompanhante de Obierika – que ele repetia sem parar uma palavra que soava como Mbaino. Talvez estivesse a caminho de Mbaino e tivesse se perdido.

– Seja como for – prosseguiu Obierika –, eles o mataram e penduraram na árvore o cavalo de ferro. Isso foi antes de começar a estação do plantio. Durante muito tempo, nada aconteceu. As chuvas já tinham chegado e os inhames sido semeados. O cavalo de ferro continuava lá, pendurado na paineira sagrada. Certa manhã, três homens brancos, guiados por um grupo de homens comuns, como nós, chegou à tribo. Olharam para o cavalo de ferro e foram embora. A maioria dos homens e das mulheres de Abame estava no campo àquela hora. Apenas um pequeno número de pessoas viu esses tais brancos e seus acompanhantes. Durante muitas semanas de mercado, nada aconteceu. Costumava haver uma grande feira em Abame nos dias de afo, quando todo o clã, como vocês sabem, ali se reunia. E foi justamente num desses dias que ocorreu a tragédia. Os três homens brancos e um grande número de outros homens cercaram o mercado. Certamente devem ter empregado um feitiço muito poderoso, que os tornou invisíveis até o mercado ficar cheio de gente. Nesse momento, começaram a atirar. Todos morreram, exceto os velhos e os doentes, que tinham ficado em casa, e mais um punhado de homens e mulheres cujos chis estavam bem acordados e os fizeram sair do mercado.

Fez uma pausa.

– A aldeia, agora, está completamente vazia. Até mesmo os peixes sagrados desapareceram de seu misterioso lago, cujas águas ficaram cor de sangue [...].

– Pagaram caro pela tolice cometida – aduziu Obierika. – Mas tudo isso me deixou receoso. Todos nós temos ouvido histórias de homens brancos que fazem espingardas poderosas e bebidas fortes, e que levam escravos para longe, através dos mares; mas nunca nenhum de nós pensou que fossem histórias verdadeiras.

– Não há histórias que não sejam verdadeiras – disse Uchendu. – O mundo é infinito, e aquilo que é bom para certas pessoas pode ser abominável para outras.

ACHEBE, Chinua. O mundo se despedaça. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 157-161.

Glossário
albino: indivíduo com albinismo, distúrbio caracterizado pela ausência de pigmentos (ou seja, cor) em toda ou em partes da pele, cabelos e olhos.
cavalo de ferro: bicicleta.
oráculo: deus ou pessoa que fala em nome de um deus, respondendo a perguntas e prevendo o futuro. Suas afirmações são sempre consideradas verdadeiras, e suas ordens são seguidas.
batedor: soldado que vai à frente da tropa para “bater o caminho”, ou seja, averiguar o que está acontecendo para avisar os outros.
afo ou afor: pode se referir ao ano ou, como é o caso no texto, a um dos quatro dias da semana no calendário igbo.
chis: deuses que protegem uma pessoa e são exclusivos dela.

Sobre a história contada por Obierika, responda à pergunta:

A previsão que o Oráculo fez foi certa ou errada?

Soluções para a tarefa

Respondido por anavictorialins
1

Resposta:

certa

espero ter ajudado(. ❛ ᴗ ❛.)

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