o que nietzsche pensa a respeito da ética?
Soluções para a tarefa
Resposta:
O que nós precisamos agora é de uma definição ou especificação da moral, a forma de vida ética que Nietzsche busca superar. Infelizmente, isso não é fácil de fornecer, e Nietzsche nos diz por que as coisas são desse modo; segundo ele, é impossível definir qualquer coisa que carregue consigo uma história complexa. Alguém poderia tentar esquivar-se desse problema, abordando diretamente a crítica de Nietzsche à moral e construindo o objeto desta crítica a partir de suas objeções à mesma, como é o caso da influente tentativa de Brian Leiter. Leiter chama esse objeto de “moralidade no sentido pejorativo” (MSP), que ele propõe não como uma categoria histórica, mas heurística. Leiter constrói as normas que pertencem à MSP a partir dos “comentários críticos díspares do filósofo - sobre o altruísmo, a felicidade, a compaixão, a igualdade, o respeito kantiano pelas pessoas, o utilitarismo, etc.” (Leiter, 2002, p. 129). A MSP consiste, portanto, em um sistema ético que tem uma atitude positiva para com a felicidade, o altruísmo e a igualdade, entre outras coisas. Embora essa abordagem tenha certo apelo - afinal de contas, o que queremos saber diz respeito àquilo contra o que Nietzsche se posiciona -, ela também possui um aspecto negativo. Queremos ainda saber se é realmente a moral que Nietzsche está atacando, e a explicação de Leiter não deixa claro se as alegadas objeções nietzschianas à MSP são de fato objeções à moral. Leiter toma a objeção de Nietzsche à MSP da seguinte maneira:
uma cultura em que tais normas prevalecem como morais será uma cultura que elimina as condições para a realização da excelência humana - esta última exige, na visão de Nietzsche, o cuidado consigo mesmo, o sofrimento, certa indiferença estoica, um senso de hierarquia e de diferença, e coisas semelhantes (Leiter, 2002, p. 129).
O exemplo mais plausível de Leiter acerca de como isso pode se dar diz respeito à felicidade. Uma cultura permeada por atitudes positivas em relação à felicidade e atitudes negativas no que tange ao sofrimento tornará mais difícil para os seres humanos criativos, os grandes artistas e pensadores - os tipos elevados nietzschianos, segundo Leiter - a concretização de seu potencial: tolerar e mesmo acolher de bom grado o sofrimento necessário à realização daquela potencialidade ao invés de dissipar a si mesmo na busca da felicidade. Mas a moral, de fato, incorpora a felicidade como uma norma, ou produz uma cultura que o faça? Apesar de a cultura secular contemporânea adotar a felicidade como uma norma, isso parece ser a antítese de uma cultura moral, que promoveria antes o cumprimento do dever e o empenho para se tornar uma pessoa boa, e não a luta pela própria felicidade. Se assumirmos, então, que uma das mais importantes críticas de Nietzsche à moral diz respeito ao fato de que a mesma produz o desprezível “último homem” que se preocupa apenas com a felicidade, é difícil compreender, a partir da explicação de Leiter, como a moral poderia ser responsável por isso. Também é difícil compreender por que Nietzsche tem tamanho horror da moral. Mesmo que ela atue contra a existência de tipos elevados, isso não parece suficiente para explicar a percepção que Nietzsche nos transmite de que a moral é “contra a vida” e de que ela teria feito da humanidade uma espécie doentia e deteriorada.