O que é ser brasileiro? De que maneira essa identidade se manifesta em você? Muitos são os estereótipos sobre o Brasil no Exterior Mas, afinal, quais são as caracteristicas do nosso povo?
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Resposta:
O que é ser brasileiro de verdade?", se pergunta Alex Mello. O ator, que veio da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, e vive há dez anos entre o Brasil e a Alemanha, conta que, quando decidiu se mudar para o país europeu, ouviu dos amigos: "Você não pertence a este lugar!"
Foi exatamente por se opor a categorizações do tipo que Alex deixou o Brasil. "Na profissão de ator, os papéis que na maior parte das vezes cabem a um negro são os de bandido ou garçom." Está claro para Alex que ele corre o mesmo risco na Alemanha, onde, num passe de mágica, ele vira o exótico latin lover ou o espertalhão, aquele que sempre sabe como dar um jeitinho.
"Aqui esperam que eu seja superanimado, dance de chá-chá-chá a tango e faça uma caipirinha tão boa quanto eles fazem strudel. Tenho muito cuidado para não desfilar nesses clichês. Minha briga é não ser o artista de nicho, nem escravo nem bandido", explica Alex, que hoje é professor de teatro para crianças e jovens alemães e refugiados da 5° a 9° série de uma tradicional escola alemã.
A estratégia que o carioca encontrou para lidar com a reconstrução do seu eu é preservar a identidade brasileira, mas continuar curioso e aberto. "Vou negociando com essa identidade nova e me deixo influenciar até certo ponto. A Alemanha me ensinou a me posicionar de forma direta. Nisso, eu sou alemão. Para muita gente, essa coisa de falar 'não' e o humor scharf (afiado) são um defeito."
Sentado no Atelier Culinário, um restaurante de Berlim que une gastronomia à arte de receber e juntar culturas, o brasileiro Sérgio Costa, professor de sociologia no Instituto Latino-Americano da Universidade Livre de Berlim, conta que também não gosta de estereótipos. Ele diz que as pessoas tendem a supervalorizar as diferenças, mas que não existe uma identidade nacional "verdadeira".
Enquanto o sociólogo vai discorrendo sobre os mitos de origem das sociedades brasileira (mito da mistura) e alemã (mito da pureza), o Atelier Culinário vai ficando cheio de latinos, alemães e asiáticos. O que à primeira vista parece ser apenas mais um restaurante, transforma-se numa espécie de aconchegante sala de estar, com a diferença de que a porta está aberta para todos.
E então Costa pontua: "O ‘verdadeiro' é isso que está se movimentando. Assim como uma nação, nós também contamos uma história de nós mesmos. E ela precisa ser coerente: ter começo, meio e fim."
"Agora, nós só podemos contar essa história depois que ela acontece. Essa é a prova de que não existe uma identidade pré-definida. O que nos dá isso que chamamos de identidade é a maneira pela qual nós contamos a nossa própria história", diz.