Filosofia, perguntado por leeeeeeeeeh, 1 ano atrás

O que é a crise da razão? pf me explique direitinho..

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Respondido por anamenegueti
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O filósofo Hegel (séc. XIX), um racionalista, que disse que a realidade é racionalidade, também disse sobre a Razão:

1. A razão é cumulativa: na batalha interna entre teses e antíteses, a razão vai sendo enriquecida, vai acumulando conhecimentos cada vez maiores sobre si mesma, tanto conhecimento da racionalidade do real (razão objetiva) quanto como conhecimento da capacidade racional para o conhecimento (razão subjetiva).
2. A razão traz esperança: a razão possui força para não se destruir a si mesma em suas contradições internas; ao contrário, supera cada uma delas e chega a uma síntese harmoniosa de todos os momentos que constituíram a sua história.

Vários filósofos franceses, como Michel Foucault, Jacques Derrida e Giles Delleuze, ao estudarem a história da filosofia, das ciências da sociedade, das artes e das técnicas, disseram que, sem dúvida, a razão é histórica - isto é, muda temporalmente -, mas essa história não é cumulativa, evolutiva, progressiva e contínua. Pelo contrário, é descontínua, se realiza por saltos e cada estrutura nova da razão possui um sentido próprio, válido apenas para ela.
Dizem eles que uma teoria (filosófica ou científica) ou uma prática (ética, política, artística) são novas justamente quando rompem as concepções anteriores e as substituem por outras completamente diferentes, não sendo possível falar numa continuidade progressiva entre elas, pois são tão diferentes que não como nem por que compará-las e julgar uma delas mais atrasada e a outra mais adiantada.
Assim, por exemplo, a teoria da relatividade, elaborada por Einstein, não é continuação evoluída e melhorada da física clássica, formulada por Galileu e Newton, mas é uma outra física, com conceitos, princípios e procedimentos completamente novos e diferentes. Temos duas físicas diferentes, cada qual com seu sentido e valor próprios.
Não se pode falar num processo, numa evolução ou num avanço da razão a cada nova teoria, pois a novidade significa justamente que se trata de algo novo, tão diferente e tão outro que será absurdo falar em continuidade e avanço. Não há como dizer que as idéias e as teorias passadas são falsas, erradas ou atrasadas: elas simplesmente são diferentes das atuais porque se baseiam em princípios, interpretações e conceitos novos.
Uma concepção semelhante foi desenvolvida pelo norte-americano Thomas Kuhn, filósofo da ciência que estuda a história do pensamento científico para mostrar que as ciências não se desenvolvem num processo contínuo e cumulativo e sim por 'saltos' ou revoluções. Essas revoluções acontecem quando uma teoria científica entra em crise e acaba sendo eliminada por outra, organizada de maneira diferente.
Em cada época de sua história, a razão cria modelos ou paradigmas explicativos para os fenômenos ou para os objetos do conhecimento, não havendo continuidade nem pontos comuns entre eles que permitam compará-los. Agora, em lugar de um processo linear e contínuo da razão, fala-se na invenção de formas diferentes de racionalidade, de acordo com critérios que a própria razão cria para si mesma. A razão grega é diferente da medieval que, por sua vez, é diferente da renascentista e da moderna. A razão moderna e a iluminista também são diferentes, assim com a razão hegeliana é diferente da contemporânea.
Enfim, os filósofos ditos pós-modernos (como, por exemplo, o francês Lyotard e o norte-americano Rorty) consideram a filosofia e a ciência práticas culturais típicas do Ocidente cuja pretensão de realizar a razão ou o conhecimento racional é infundada e irrealizável. Por quê? Porque a razão tem a pretensão de ser o conhecimento verdadeiro da realidade, mas esta não existe, pois não há fatos, dados ou coisas e sim maneiras de falar ou 'jogos de linguagem' com que inventamos meios para exprimir o que pensamos e sentimos. Chamamos tais jogos de racionais ou de verdadeiros simplesmente enquanto funcionam ou são úteis para nossos fins e os abandonamos por outros quando deixam de funcionar ou de ser úteis para nossos fins. A prova de que não há a razão está na multiplicidade de filosofias contrárias umas às outras e nas mudanças das teorias científicas. Razão, racionalidade, objetividade, verdade são mitos ocidentais, 'crenças tribais' como as de quaisquer outros povos. (Convite à Filosofia, Marilena Chauí).
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