O grande mistério
Há dias já que buscavam uma explicação para os odores esquisitos que vinham da sala de visitas.
Primeiro houve um erro de interpretação: o quase imperceptível cheiro foi tomado como sendo de camarão. No dia em que as pessoas da casa notaram que a sala fedia, havia um soufflê de camarão para o jantar. Daí... Mas comeu-se o camarão, que inclusive foi elogiado pelas visitas, jogaram as sobras na lata do lixo e — coisa estranha — no dia seguinte a sala cheirava pior. Talvez alguém não gostasse de camarão e, por cerimônia, embora isso não se use, jogasse a sua porção debaixo da mesa. Ventilada a hipótese, os empregados espiaram e encontraram apenas um pedaço de pão e uma boneca de perna quebrada, que Giselinha esquecera ali. E como ambos os achados eram inodoros, o mistério persistiu. Os patrões chamaram a arrumadeira às falas. Que era um absurdo, que não podia continuar, que isso, que aquilo. Tachada de desleixada, a arrumadeira caprichou na limpeza. Varreu tudo, espanou, esfregou e... nada. Vinte e quatro horas depois, a coisa continuava. Se modificação houvera, fora para um cheiro mais ativo. À noite, quando o dono da casa chegou, passou uma espinafração geral e, vítima da leitura dos jornais, que folheara no lotação, chegou até a citar a Constituição na defesa de seus interesses. — Se eu pago empregadas para lavar, passar, limpar, cozinhar, arrumar e ama-secar, tenho o direito de exigir alguma coisa. Não pretendo que a sala de visitas seja um jasmineiro, mas feder também não. Ou sai o cheiro ou saem os empregados.
Responda as questões sobre este primeiro trecho:
a) O narrador já no primeiro parágrafo nos diz qual é o fato que gera o mistério e vai reforçando. Retire as expressões que indicam qual é o fato misterioso e as referências feitas a ele nos três parágrafos seguintes.
b) O tipo de narrador é: personagem, em 1ª pessoa ou é narradores, em 3ª pessoa? Comprove com uma frase.
c) Quanto aos personagens, quais são? Sabendo que o autor do texto tinha três filhas, você seria capaz de criar hipóteses para explicar o fato de somente uma personagem ter nome?
d) O texto, no geral, apresenta uma linguagem bem coloquial, mas apresenta algumas expressões não muito usadas hoje em dia, visto que o texto foi escrito na década de 60. Retire 2 trechos coloquial e 2 que você considera mais antigos e explique seus significados.
e) Existe um fato misterioso e que deve ser esclarecido. Então, quem são os suspeitos e quais são as pistas que nos levam a eles?
Soluções para a tarefa
Resposta:
a) O mistério é indicado pela expressão "odores esquisitos que vinham da sala de visitas", e as referências listadas são "coisa estranha", "o mistério" e "a coisa".
b) O tipo de narrador da crônica é o onisciente, e a expressão que justifica isso é "– Se eu pago empregadas para lavar, passar, limpar, cozinhar, arrumar e ama-secar, tenho o direito de exigir alguma coisa."
c) Os personagens da história são os patrões, a arrumadeira, a copeira, o chofer e a Giselinha. Hipoteticamente, poderia ser o nome de uma de suas filhas que inspirou esta personagem.
d) Dois trechos coloquiais: "Daí..." e "que isso, que aquilo". Dois trechos antigos: "eram inodoros" e "passou uma espinafração geral".
e) Considerando que não tinha nada com mal odor embaixo da mesa, e que não havia animais de estimação na casa, a única suspeita que resta é a Giselinha. (E no fim da crônica descobrimos que ela realmente era a culpada.)
Explicação:
Espero ter ajudado!