Português, perguntado por floranndp70vf5, 1 ano atrás

O filósofo e romancista Umberto Eco concedeu uma entrevista ao Jornal El País em março de 2015, pouco menos de um ano antes de sua morte. Na ocasião, o escritor falou sobre o conteúdo de seu último romance, Número Zero, uma ficção sobre o jornalismo inspirada na realidade e sobre as relações da temática da obra com a atualidade: o papel da imprensa, a Internet e a sociedade.



Pergunta: Agora a realidade e a fantasia têm um terceiro aliado, a Internet, que mudou por completo o jornalismo.

Resposta: A Internet pode ter tomado o lugar do mau jornalismo... Se 1você sabe que está lendo um jornal como EL PAÍS, La Repubblica, Il Corriere della Sera…, pode pensar que existe um certo controle da notícia e confia. 2Por outro lado, se 3você lê um jornal como aqueles vespertinos ingleses, sensacionalistas, não confia. Com a Internet acontece o contrário4: confia em tudo porque não sabe diferenciar a fonte credenciada da disparatada. Basta pensar no sucesso que faz na Internet qualquer página web que fale de complôs 5ou que 6invente histórias absurdas: tem um acompanhamento incrível, de internautas e de pessoas importantes que as levam a sério.



Pergunta: Atualmente é difícil pensar no mundo do jornalismo que era protagonizado, aqui na Itália, por pessoas como Piero Ottone e Indro Montanelli…

Resposta: Mas a crise do jornalismo no mundo começou nos anos 1950 e 1960, bem quando chegou a televisão, antes que eles 7desaparecessem! Até então o jornal 8te contava o que acontecia na tarde anterior, por isso muitos eram chamados jornais da tarde: Corriere della Sera, Le Soir, La Tarde, Evening Standard… Desde a invenção da televisão9, o jornal te diz pela manhã o que você já sabe. E agora é a mesma coisa. O que um jornal deve fazer?



Pergunta: Diga o senhor.

Resposta: Tem que se transformar em um semanário. Porque um semanário tem tempo, são sete 10dias para construir 11suas reportagens. Se você lê a Time ou a Newsweek vê que várias pessoas 12contribuíram para uma história concreta, que trabalharam nela semanas ou meses, enquanto que em um jornal tudo é feito da noite para o dia. Um jornal que em 1944 tinha quatro páginas hoje tem 64, então tem que preencher obsessivamente com notícias repetidas, cai na fofoca, não consegue evitar... A crise do jornalismo, 13então, começou há quase cinquenta anos e é um problema muito grave e importante.



Pergunta: Por que é tão grave?

Resposta: Porque é verdade que, como dizia Hegel, a leitura dos 14jornais é a oração matinal do homem moderno. E 15eu não consigo tomar meu café da manhã se não folheio o jornal; mas é um ritual quase afetivo e religioso, porque folheio olhando os títulos, e por 16eles me dou conta de que quase tudo já sabia na noite anterior. 17No máximo, leio um editorial ou um artigo de opinião. Essa é a crise do jornalismo contemporâneo. E disso não sai!



Pergunta: Acredita de verdade que não?

Resposta: O jornalismo poderia ter outra função. Estou pensando em alguém que faça uma crítica cotidiana da Internet, e é algo que acontece pouquíssimo. Um jornalismo que me diga: 18“Olha o que tem na Internet, olha que coisas falsas estão dizendo, reaja a isso, eu te mostro”. E isso pode ser feito tranquilamente. 19No entanto, ainda 20pensam que o jornal é feito para que seja lido por alguns velhos senhores 21– já que os jovens não 22leem – que ainda não usam a Internet. Teria que se fazer um jornal que não se torne apenas a crítica da realidade cotidiana, mas também a crítica da realidade virtual. Esse é um futuro possível para um bom jornalismo.



(EL PAÍS. Caderno cultura. 30 de março de 2015. Disponível em http://brasil.elpais.com/brasil/2015/03/26/cultura/1427393303_512601.html. Acesso em 10 abr. 2016)



(Upf) Uma das formas de estabelecer a coesão no texto é recorrer ao uso de encadeadores argumentativos. Assinale a alternativa que indica corretamente a relação entre o encadeador e o efeito de sentido produzido.

Escolha uma:
a. “No entanto” (ref. 19) – marca uma relação de conclusão.
b. “Por outro lado” (ref. 2) – introduz uma explicação ao que foi dito no enunciado anterior.
c. “Ou” (ref. 5) – indica uma relação de disjunção argumentativa.
d. “Então” (ref. 13) – especifica o que foi dito anteriormente.
e. “No máximo” (ref. 17) – acrescenta um argumento mais forte do que o anterior.

Soluções para a tarefa

Respondido por pissurnof
11
Olá, tudo bem? Vamos analisar cada alternativa para poder marcar a resposta correta da questão ao final:

a) Falsa. A expressão "No entanto", no contexto apresentado, tem uma relação de adversidade com as orações que a cercam.

b) Falsa. A expressão "Por outro lado", no contexto apresentado, tem uma relação de adversidade com as orações que a cercam.

c) Falsa. A palavra "ou", no contexto apresentado, tem uma relação de alternância com as orações que a cercam.

d) Verdadeira. Trata-se da relação estabelecida da palavra "então" com as orações que a cercam.

e) Falsa. A expressão "no máximo", no contexto apresentado, tem uma relação de especificidade com a sentença anterior.

Como a alternativa d é a única verdadeira, trata-se da resposta correta.
Respondido por gustteixeira
8

Resposta correta é:

"No máximo" — acrescenta um argumento mais forte do que o anterior.

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