Question

O filho do século

Nunca mais andarei de bicicleta
Nem conversarei no portão
Com meninas de cabelos cacheados
Adeus valsa “Danúbio Azul"
Adeus tardes preguiçosas
Adeus cheiros do mundo sambas
Adeus puro amor
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem
Não tenho forças para gritar um grande grito
Cairei no chão do século vinte
Aguardam-me lá fora
As multidões famintas justiceiras
Sujeitos com gases venenosos
É a hora das barricadas
É a hora do fuzilamento, da raiva maior
Os vivos pedem vingança
Os mortos minerais vegetais pedem vingança
É a hora do protesto geral
É a hora dos voos destruidores
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos,
Misérias de todos os países uni-vos
Fogem a galope os anjos-aviões
Carregando o cálice da esperança
Tempo espaço firmes porque me abandonastes.
(MENDES, Murilo. D visionário. In: Poesia completa eprosa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 239-240.)

1. O poema apresenta dois momentos distintos. Quais são eles?
2. Na primeira parte, o eu lírico trata de situações que deixam de existir com a chegada do século XX. Quais são elas?
a) Como é o retrato do mundo composto por essas situações?
b) Ao descrever essas situações, o eu lírico utiliza as expressões nunca mais, nem e adeus. O que elas indicam sobre o que ocorreu em relação a essas
situações com a mudança de século?

Answer 1

Olá,

 

Tudo bem?

 

1)    Em um primeiro momento o eu lírico trata da tranqüilidade da vida cotidiana antes do início do século XX. Já no segundo, ele trás a dura realidade e incerteza trazida pela 1º guerra mundial.

 

2)    Situações cotidianas, como andar de bicicleta tranquilamente, conversar no portão e aproveitar de tardes “preguiçosas”

 

a)     É um retrato doce, calmo, de um mundo sem muitas preocupações e incertezas, de uma rotina constante e singela

b)    As expressões nunca e jamais trazem a tona a sensação de finitude, de que mesmo que a guerra acabe, as feridas (e desejos de vingança) já relembraria o clima pesado deixado pelo conflito.