Chegaram quase ao mesmo tempo ao ponto marcado para o encontro. Apearam em silêncio e amarraram seus cavalos. [...] F aproximaram-se um do outro, lentos, meio enrurvados Pararam quando a distância que os separava era pouco mais de cinco passos e ficaram a se mirar, negaceantes. Rodrigo ouvia a respiração arquejante do inimigo. — Vou te mostrar o que acontece quando se bate na cara dum homem, patife — rosnou ele. E sentiu que a raiva o fazia feliz. — Quem vai te mostrar sou eu, canalha. E dizendo isto Bento avançou brandindo a adaga. Os ferros se encontraram no ar com violência e tiniram. No primeiro momento Rodrigo teve de recuar alguns passos. Mas logo firmou o pé no chão e desviou todos os pranchaços do outro. [...] Por alguns instantes os dois inimigos terçaram armas, disseram-se palavrões, enquanto suas camisas se empapavam de suor. Por fim se atracaram num corpo a corpo furioso, cabeça contra cabeça, peito contra peito. [...] — Vou te botar minha marca na cara, pústula! [...] Empregando toda sua força, que o ódio aumentava, o capitão conseguiu prender a mão direita do outro entre suas coxas [...]. — Te prepara, porco! — gritou Rodrigo — É agora. E riscou-lhe verticalmente a face. O sangue brotou no talho. [...] — Falta a volta do R ! E num golpe rápido fez uma pequena meia-lua, às cegas. Bento cuspiu-lhe no rosto, frenético, e num repelão safou-se e tombou de costas, deixando cair a adaga. Rodrigo imaginou que ele ia levantar-se, apanhar de novo a arma e voltar ao ataque. Mas, Bento, sentado no chão, com a mão no rosto, ficou olhando atarantadamente para todos os lados. [...] — Não vou te matar, miserável — disse Rodrigo — mas não costumo deixar serviço incompleto. Quero terminar esse R. Falta só a perninha... E caminhou para o adversário, devagarinho, antegozando a operação e lamentando que não fosse noite de lua cheia para ele poder ver bem a cara odiosa de Bento Amaral. [...] (VERÍSSIMO, Erico. Um certo capitão Rodrigo. 3.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 81-83. (Fragmento))
1. Que motivo levou o capitão Rodrigo a duelar com Bento Amaral?
2. Releia o trecho a seguir. “E aproximaram-se um do outro, lentos, meio encurvados. Pararam quando a distância que os separava era pouco mais de cinco passos e ficaram a se mirar, negaceantes. Rodrigo ouvia a respiração arquejante do inimigo.”
a) Que sentimentos dominam as personagens nessa cena?
b) Por meio de que recursos esses sentimentos são apresentados ao leitor?
3. O capitão Rodrigo é um dos “heróis” de O tempo e o vento. De que maneira, nessa cena, percebemos que ele encarna “o código de honra” que caracteriza o gaúcho? ► Que outras características de Rodrigo, destacadas na luta, constroem no texto o “símbolo” do gaúcho?
4. Releia. “Rodrigo imaginou que ele ia levantar-se, apanhar de novo a arma e voltar ao ataque. Mas, Bento, sentado no chão, com a mão no rosto, ficou olhando atarantadamente para todos os lados.”
a) Bento Amaral é o filho do homem mais poderoso de Santa Fé. Protegido pelo pai, não está acostumado a ser ameaçado, já que todos temem represálias. O que sua atitude, no trecho transcrito, revela a respeito de seu caráter?
b) O que essa derrota simboliza, considerando a oposição de Bento Amaral à figura “heróica” do capitão Rodrigo na sociedade local?
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Olá,
1) O fato de Bento ter batido no rosto dele
2 - a) Rodrigo estava com o sentimento de vingança, enervado pela raiva, enquanto Bento estava motivado pelo orgulho. Ambos estavam cautelosos e nervosos com o eminente confronto.
b) Através da ambientação e posicionamento dos personagens no espaço, além da descrição de características como o ritmo da respiração.
3) Ele recupera seu orgulho ao desenhar o R de seu nome no rosto de seu inimigo, ressaltando a masculinidade e autoafirmação do esteriótipo.
4 - a) Revela que ele não tem coragem para continuar a luta e defender sua honra.
b) Neste confronto Rodrigo se reafirma perante a sociedade, derrotando o inimigo, tendo coragem para confrontar quem o “humilhou” diferente de seu oponente.
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