O desempenho eleitoral de Francisco Everardo Oliveira Silva, mais conhecido como o palhaço Tiririca, tem sido
avaliado com certa indulgência por analistas e cientistas políticos. Seria apenas uma "manifestação de protesto"
do eleitorado. Muitos desses analistas chegam a lembrar, numa comparação só aparentemente pertinente, que
em São Paulo mesmo, nos anos 50, o rinoceronte Cacareco obteve votação maciça para vereador.
Manifestação de protesto, especialmente numa eleição, é ato eminentemente político. Pressupõe consciência
da adequação do meio ao fim que se pretende alcançar. O que pode existir de político no ato de votar num
candidato que assumidamente não tem a menor ideia do que sua investidura poderá significar? Numa pessoa
visivelmente manipulada por dirigentes partidários espertalhões? Pode ser muito engraçado eleger um palhaço
para esculhambar um Poder da República que cada vez menos se dá ele próprio ao respeito. Mas não é nada
engraçado verificar que palhaçadas acabam resultando quase sempre em decisões parlamentares que pouco
ou nada têm que ver com os verdadeiros interesses dos eleitores. Quando, nos anos 50, dezenas de milhares
de votos foram dados ao Cacareco, o pior que aconteceu foi o desperdício desses votos, obviamente, anulados.
Agora, a enorme votação do Tiririca acabou elegendo pelo menos mais três deputados da mesma coligação
que por si sós não teriam chegado lá. Não é impossível, claro, embora não pareça provável, que o futuro
deputado em questão venha a revelar verdadeiro espírito público e se transformar em valoroso representante
do povo. Mas o fato é que o voto em Tiririca nada teve que ver com protesto. De consciente pode ter tido, no
máximo, a intenção do deboche. No resto, é pura despolitização, falta de informação, ignorância. É um tiro que
o eleitor alienado deu no próprio pé. Esse fenômeno é exemplar da grave despolitização que se alastra pelo
País desde o advento do populismo lulista no poder. Como nosso presidente tem origem humilde e está
blindado pela cultuada imagem de "homem do povo", torna-se quase impossível criticá-lo sem cometer grave
ofensa ao povo. Convém começar, portanto, pelos elogios: o governo Lula, sem a menor sombra de dúvida,
tem feito o País andar para a frente, tornar-se melhor, no sentido de mais próspero, durante os oito anos de
seus dois mandatos. Para citar duas realizações mais relevantes, entre si fortemente relacionadas: a aceleração
do desenvolvimento econômico, unanimemente confirmada por todos os indicadores disponíveis e, até mais
importante, consequência da anterior, a incorporação de muitos milhões de brasileiros antes marginalizados ao
mercado de consumo. Há, portanto, muito menos gente passando fome e muito mais desfrutando os benefícios
do progresso no Brasil de hoje. É claro que isso tudo é o resultado de um trabalho que começou muito antes
de Lula se tornar presidente - a tal "herança maldita" -, mas é inegável seu grande empenho e seu êxito na
aceleração e no aprofundamento dessas realizações. Por esses feitos meritórios o Brasil e este escriba rendem
justa homenagem à ilustre figura. Mas o que não conseguem enxergar os adoradores de Lula encharcados do
mais piedoso sentimento de amor aos pobres - com os cínicos e oportunistas nem adianta argumentar - é que
indicadores econômicos positivos estão longe de ser suficientes para demonstrar desenvolvimento pleno,
econômico e social. Tão importante quanto dar de comer a quem tem fome é criar condições para que o faminto
tome consciência de que tem o direito não apenas de receber a benesse de um prato de comida, mas de obter
o próximo prato por seus próprios meios, como exige sua dignidade de ser humano.
Na opinião do autor a vitória do palhaço Tiririca é resultado de um governo populista. Você concorda com
isso?
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Resposta:
Concordo ele é um homem de muito sucesso merecedor
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