O cérebro é organizado em regiões funcionais distintas, ou seja,
cada região do cérebro é responsável por processar diferentes funções (como visão, audição, memória, emoções e controle inibitório). Essas diferentes regiões cerebrais podem atuar em conjunto para processar operações mentais complexas: cada interface ou fase
de um mesmo comportamento cognitivo pode ser processada em áreas diferentes do cérebro.
Atualmente, é possível observar, por meio de tecnologias de neuroimagem (como ressonância magnética e eletroencefalograma), que diferentes fases cognitivas podem acontecer em regiões cerebrais distintas. Mas, segundo Kandel (2014), essa descoberta foi feita no século XIX, sem o uso de nenhuma tecnologia. Mesmo sem conseguir observar a ativação cerebral acontecendo, tal como se pode observar hoje, os fisiologistas Paul Broca e Karl Wernicke foram capazes de descobrir que fases linguísticas acontecem em regiões cerebrais específicas, em contraposição a uma visão holística, a qual assumia
que o cérebro como um todo era responsável por todos os processos cognitivos. E foi a partir dessa descoberta que outras funções cognitivas (visão, audição, emoção, etc.) foram também sendo mapeadas no encéfalo.
Veja, a seguir, as áreas funcionais do cérebro.
Com base nas informações anteriores e na imagem acima, imagine que você faça parte de um grupo de pesquisadores interessados em mapear a relação linguagem-cérebro. Mas, assim como os cientistas do século XIX, você não tem acesso às tecnologias de imageamento cerebral que hoje são utilizadas para determinar quais regiões do encéfalo estão ligadas a quais processos cognitivos (o que é uma situação bastante comum em diversas universidades e centros de pesquisa no país, dado
o alto custo desses equipamentos).
Quais materiais e métodos de estudo você utilizaria para fazer esse mapeamento? Se desejar, você também pode utilizar outras funções cognitivas para complementar seu estudo. O ponto central desse desafio é procurar meios de associar diferentes regiões do cérebro a processos cognitivos, sem que seja necessário o uso de tecnologias de ponta, como a neuroimagem.
Escreva sua resposta no campo abaixo:
Soluções para a tarefa
Resposta:
Mesmo sem utilizar quaisquer tecnologias, os fisiologistas Paul Broca
e Karl Wernicke foram capazes de descobrir que a produção e a compreensão linguísticas estavam associadas a regiões cerebrais distintas, que hoje são denominadas área de Broca e área de Wernicke. Embora o neuroimageamento cerebral atual tenha auxiliado a refinar essa descoberta (hoje sabemos que a área de Broca está ligada especificamente ao componente gramatical, e a de Wernicke ao componente fonológico, em vez de associadas, de forma mais abrangente, à totalidade da produção e compreensão linguísticas), o método utilizado por Broca e Wernicke se mostrou bastante preciso
e simples, sendo até hoje utilizado em estudos da Neurolinguística.
Broca e Wernicke observaram que, após um acidente vascular
cerebral (AVC), algumas pessoas apresentavam distúrbios linguísticos semelhantes. Ao fazer a autópsia desses pacientes, notaram que
lesões em regiões cerebrais distintas estavam associadas a distúrbios linguísticos também distintos, observando que pessoas com distúrbios linguísticos semelhantes apresentavam lesão na mesma região do cérebro. Ou seja, uma forma de mapear a relação cérebro-língua, associando regiões cerebrais a processos funcionais, sem utilizar tecnologias de ponta, é correlacionar distúrbios linguísticos específicos a lesões cerebrais em regiões também específicas, observando a localização de tais lesões após a morte do paciente,
via autópsia.
Desse modo, se um grupo de pacientes apresenta déficits morfológicos em sua fala, por exemplo, e uma autópsia revela lesões cerebrais localizadas em uma mesma região cerebral nesses pacientes, então
é possível associar aquela região cerebral ao processamento morfológico da linguagem. Uma alternativa à autópsia seria recorrer
à descrição clínica de pacientes com lesão cerebral, comparando essa descrição com amostras de fala dos mesmos pacientes. A descrição clínica deverá conter exames apontando o local da lesão, que podem então ser associados aos déficits linguísticos de um grupo de pacientes. Embora essa alternativa não estivesse disponível no século XIX, pois conta com a realização de exames de neuroimagem, esses exames não apresentam objetivo originalmente linguístico, mas sim medicinal.
Desse modo, o pesquisador que não possui recursos neurotecnológicos em seu centro de pesquisa pode valer-se de uma estrutura hospitalar que realize esses exames com fins clínicos, reanalisando-os por uma perspectiva linguística.
Um segundo caminho possível ao mapeamento língua-cérebro seria
um método comparativo-observacional, que pode envolver outras funções cognitivas: observar que pacientes que sofreram AVC ou
outras lesões cerebrais podem, por exemplo, apresentar déficits especificamente linguísticos, mas não em outras funções cognitivas, como na interpretação musical (ou vice-versa, déficits musicais mas
não linguísticos), indica que música e língua se localizam em áreas distintas do cérebro. Embora esse método não seja capaz de apontar precisamente qual área do cérebro está associada à língua e qual está associada à música, a descrição de quais funções mentais são ou não afetadas por uma mesma lesão cerebral traz grandes contribuições ao mapeamento cerebral.
Em resumo, para contornar a ausência de equipamentos de neuroimagem dedicados ao estudo linguístico, os pesquisadores
devem comparar quais efeitos linguísticos se associam à localização
de lesões cerebrais, uma metodologia muito utilizada pela área da Neurolinguística. A localização dessas lesões pode ser determinada tanto por autópsia quanto por diagnósticos/exames hospitalares, realizados fora do centro de pesquisa linguística.
Resposta:
Explicação:
Mesmo sem utilizar quaisquer tecnologias, os fisiologistas Paul Broca e Karl Wernicke foram capazes de descobrir que a produção e a compreensão linguísticas estavam associadas a regiões cerebrais distintas, que hoje são denominadas área de Broca e área de Wernicke. Embora o neuroimageamento cerebral atual tenha auxiliado a refinar essa descoberta (hoje sabemos que a área de Broca está ligada especificamente ao componente gramatical, e a de Wernicke ao componente fonológico, em vez de associadas, de forma mais abrangente, à totalidade da produção e compreensão linguísticas), o método utilizado por Broca e Wernicke se mostrou bastante preciso e simples, sendo até hoje utilizado em estudos da Neurolinguística.
Broca e Wernicke observaram que, após um acidente vascular cerebral (AVC), algumas pessoas apresentavam distúrbios linguísticos semelhantes. Ao fazer a autópsia desses pacientes, notaram que
lesões em regiões cerebrais distintas estavam associadas a distúrbios linguísticos também distintos, observando que pessoas com distúrbios linguísticos semelhantes apresentavam lesão na mesma região do cérebro. Ou seja, uma forma de mapear a relação cérebro-língua, associando regiões cerebrais a processos funcionais, sem utilizar tecnologias de ponta, é correlacionar distúrbios linguísticos específicos a lesões cerebrais em regiões também específicas, observando a localização de tais lesões após a morte do paciente, via autópsia.
Desse modo, se um grupo de pacientes apresenta déficits morfológicos em sua fala, por exemplo, e uma autópsia revela lesões cerebrais localizadas em uma mesma região cerebral nesses pacientes, então
é possível associar aquela região cerebral ao processamento morfológico da linguagem. Uma alternativa à autópsia seria recorrer à descrição clínica de pacientes com lesão cerebral, comparando essa descrição com amostras de fala dos mesmos pacientes. A descrição clínica deverá conter exames apontando o local da lesão, que podem então ser associados aos déficits linguísticos de um grupo de pacientes. Embora essa alternativa não estivesse disponível no século XIX, pois conta com a realização de exames de neuroimagem, esses exames não apresentam objetivo originalmente linguístico, mas sim medicinal.
Desse modo, o pesquisador que não possui recursos neurotecnológicos em seu centro de pesquisa pode valer-se de uma estrutura hospitalar que realize esses exames com fins clínicos, reanalisando-se por uma perspectiva linguística.
Um segundo caminho possível ao mapeamento língua-cérebro seria
um método comparativo-observacional, que pode envolver outras funções cognitivas: observar que pacientes que sofreram AVC ou
outras lesões cerebrais podem, por exemplo, apresentar déficits especificamente linguísticos, mas não em outras funções cognitivas, como na interpretação musical (ou vice-versa, déficits musicais mas
não linguísticos), indica que música e língua se localizam em áreas distintas do cérebro. Embora esse método não seja capaz de apontar precisamente qual área do cérebro está associada à língua e qual está associada à música, a descrição de quais funções mentais são ou não afetadas por uma mesma lesão cerebral traz grandes contribuições ao mapeamento cerebral.
Em resumo, para contornar a ausência de equipamentos de neuroimagem dedicados ao estudo linguístico, os pesquisadores devem comparar quais efeitos linguísticos se associam à localização de lesões cerebrais, uma metodologia muito utilizada pela área da Neurolinguística. A localização dessas lesões pode ser determinada tanto por autópsia quanto por diagnósticos/exames hospitalares, realizados fora do centro de pesquisa linguística.