Português, perguntado por ThamirysNeves042515, 1 ano atrás


No trânsito, a ciranda das crianças


“Estão sempre na esquina da Avenida Brasil com a Rua Colômbia.Duas meninas e dois meninos, num dia. No outros, três meninas, dois meninos. Parecem se alternar. Irão para outros pontos? Mas três crianças são fixas, donas do lugar. Conquistaram por usucapião. Dominam o território. Como e quem faz essa divisão? Por que não aparecem as outras? Chegam cedo e só vão embora quando o tráfego diminui, depois das oito da noite. Cada uma carrega sua caixinha de Mentex, de chicletes, de bombom. Ainda que seja a região propícia ao luxuoso chocolate Godiva, se vende bem o Sonho de Valsa, dos mais gostosos. Faça sol ou chuva, as crianças estão ali, alertas, correndo da avenida para a rua, da rua para a avenida, ao sabor dos sinais de trânsito. Num canto da Imi, a loja de decorações, ficam duas mulheres. Talvez as mães ou quem quer que sejam. Não arredam o pé do lugar, não se levantam nunca. Ficam apenas fiscalizando, atentas ao movimento das crianças. Passam o dia sentadas.Nunca sentem vontade de ir ao banheiro? E quando necessitam, como fazem? As empresas por aqui certamente não as deixam entrar. Há uns arbustos perto da Rua México. Seria ali que deságuam? De vez em quando, as duas tomam sorvete. Ou Yakult ocasional, quando passam aquelas mulheres puxando o carrinho branco.

As crianças possuem, entre elas, um gentlemen’s agrément. Quando o sinal vermelho acende, elas correm, distribuindo as tarefas.

- O BMW é seu!

- O Mercedes fica comigo!

- Corra para o Alfa!

Conhecem todas as marcas de “carrões”! As crianças executam uma ciranda em meio a carros, correndo agarradas às caixinhas. Os que se aproximam, dentro dos veículos, mantêm os vidros fechados. Defesa paulistana. O vidro erguido isola o motorista do mundo.

As crianças rodeiam, olham para dentro, como esfomeados olham alguém comendo num restaurante. Há quem faça um aceno com a cabeça, sempre negativo. Outros abanam as mãos. Há os impacientes, os irritados. Terceiros continuam a conversar com os parceiros ao lado. O mundo no interior dos carros é uma bolha, cápsula espacial. As pessoas estão na estratosfera. Nada têm a ver com que se passa fora. Todos fazem questão de não olhar, não ouvir. Como se estas crianças fossem invisíveis ou transparentes. Os olhares as atravessam, sem que elas se materializem, se corporifiquem, se tornem humanas.

Parecem não se cansar nunca. Sempre sorridentes. Brincam entre si. O não constante não as desilute, nem tira o ânimo. Sabem, desde cedo, que o não faz parte da vida delas, permanece grudado na pele. Conhecem mais o não que o sim. Correm de um lado para o outro. Os que estão nos “ carrões” são os que nunca compram. Quem chega em carros “inferiores”, em vulgares Fuscas, Gols, Voyages, Unos, em geral abre o vidro, dá uma palavra. Muitas vezes, as crianças querem apenas conversar com alguém diferente. Enfiam a cabeça dentro da janela, com olhos excitados. Sempre pedem alguma coisa, para não perder o hábito: “Tia, me dá aquele batom? Tio, me dá essa caneta!” E querem a revista, o jornal, o chaveiro que ficou no console, até mesmo os folhetos recebidos na esquina anterior.

Às vezes, chove. E o abrigo é original, ainda que não proteja muito. As crianças procuram se enfiar nos vãos das letras gigantescas que formam a palavra, Imi. Letras de concreto, verdes. Há uma ligação entre o I e o M. O M abriga em suas curvas duas crianças. Claro que há proteção no caso da chuva ser vertical. Se tem vento ou a chuva vem inclinada, elas se molham. Também não se importam. Existe coisa melhor, quando a gente é criança, que brincar na chuva? Ainda que estas crianças, de oito ou nove anos, mirradas, sejam adultas no que possuem de experiência, vivência. Amadurecem cedo. Olhamos e não sabemos. Quanto tempo de vida terão pela frente? Que caminhos existem diante delas?

Onde moram? Foram à escola algum dia? Faço mentalmente estas perguntas. Por que não faço direto para elas em lugar de ficar imaginando? É que sabemos as respostas. Neste Brasil sabemos todas as respostas sobre miséria, fome, subvidas. por isso não perguntamos. as crianças desta esquina se reproduzem em centenas de outras esquinas desta cidade. Deste Brasil. Mas houve um dia em que elas estiveram especialmente excitadas. E felizes. Foi na manhã em que o cortejo levando Senna ao cemitério passou aqui. As crianças, contentíssimas, venderam, como nunca, suas balas, chocolates, Mentex, bombons. As coisas se esvaziaram. Tristezas de uns, meio de vida e alegria de outros.
2- Ao longo do texto , o narrador se faz várias perguntas , que aparecem em frases interrogativas diretas.
A-O que intriga o narrador , por exemplo , no primeiro parágrafo ?
B-Existem no texto respostas para as perguntas que o narrador se faz ?
3-Pelo primeiro parágrafo do texto, sabemos que o trabalho das crianças não é espontaneo.
A-Quem está por trás desse trabalho ?
B-Levante hipóteses:Por que crianças são postas para executar esse trabalho ?



ThamirysNeves042515: Gnt pelo amor de deus me ajuda
DuudaRodrigues: 2a- ele se intriga com as mulheres que ficam o dia inteiro ali, aapenas atentas ao movimento das crianças

Soluções para a tarefa

Respondido por waltercaminha
402
Olá, Thamirys, tudo bem? Vou te ajudar nessa questão:

2. a) No primeiro parágrafo, o autor demonstra-se intrigado com a dinâmica das crianças naquele cruzamento. Ele se questiona sobre a escolha do ponto e a divisão do trabalho. Além disso, se questiona também sobre as mulheres que acompanham as crianças, que ficam sentadas próximas ao sinal o dia todo.

b) Ao longo do texto, essas peguntas do primeiro parágrafo não são respondidas.

3. a) O autor afirma que duas mulheres fiscalizam o trabalho das crianças, possivelmente mães deles.

b) As crianças são provavelmente agenciadas pelas mulheres porque essas não querem trabalhar ou, talvez, não possam. De qualquer forma, as crianças deveriam estar em escolas e não em cruzamentos.
Respondido por izaspfc15
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Resposta:

ME me ajudem nessa eu preciso da 9

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