Neste mundo é mais rico, o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:
Com sua língua ao nobre o vil decepa:
O Velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por Tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra, o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
Vocabulário
Carepa: caspa.
Garlopa: instrumento de marcenaria para aparar madeira.
Increpar: acusar, condenar.
Inculcar: apresentar aparência.
Mostrar o mapa: mostrar a árvore genealógica.
Velhaco: trapaceiro.
MATOS, G. de. Crônica do viver baiano seiscentista. Rio de Janeiro: Record, 1999.
O soneto é um exemplo da produção artística que ajudou a caracterizar seu autor, Gregório de Matos, como o "Boca do Inferno". Nesse texto, o emprego de recursos poéticos permite que o eu poemático
a) apresente crítica de amplo alcance social, incluindo até os religiosos, como se vê na referência ao Papa.
b) critique os desmandos praticados pelo homem, passando então a defender a igualdade social.
c) concilie o ataque ferino às mazelas sociais baianas com o tom nobre do discurso proferido.
d) estabeleça coerência entre o tom satírico do texto e a sonoridade produzida pelas rimas.
e) condene o desregramento financeiro baiano e deixe de lado questões de cunho moral.
Soluções para a tarefa
Resposta:
Alternativa "C"
Explicação:
As riquezas mais "honestas" provém de meios ilícitos e injúrias
O autor faz uma ponte interessante entre a honestidade e a riqueza, onde as formas de concentrar renda "mais honestas" normalmente são vistas a partir de atos ilícitos e injúrias, sendo essa uma forte crítica do autor as desigualdades e a forma como apenas uma parcela da população. detém o capital. Letra D.
O autor faz uso do tom satírico para construir a narrativa
Assim, Gregório de Matos questiona a sociedade em relação a concentração de renda e fala sobre empregos, modos de produção e até mesmo como esses fatores se relacionam com os métodos de produção do período, sendo uma composição do período literário que o autor fazia parte.
Mais sobre as desigualdades:
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