Português, perguntado por araujolaisa15, 9 meses atrás

Nasci em Quibaxe, região Kimbundo, como o Comissário e o Chefe de Operações, que são dali

próximo.

Bazunqueiro, gosto de ver os caminhões carregados de tropas serem travados pelo meu tiro certeiro.

Penso que na vida não pode haver maior prazer.

A minha terra é rica em café, mas o meu pai sempre foi um pobre camponês. E eu só fiz a Primeira

Classe, o resto aprendi aqui, na Revolução. Era miúdo na altura de 1961. Mas lembro-me ainda das cenas de

crianças atiradas contra as árvores, de homens enterrados até o pescoço, cabeça de fora, e o trator passando,

cortando as cabeças com a lâmina feita para abrir terra, para dar riqueza aos homens. Com que prazer destruí

há bocado o buldôzer! Era parecido com aquele que arrancou a cabeça do meu pai. O buldôzer não tem culpa,

depende de quem o guia, é como a arma que se empunha. Mas eu não posso deixar de odiar tratores,

desculpem-me.

E agora o Lutamos fala aos trabalhadores. Talvez explique que os quis avisar antes, mas que foi

descoberto. E deixem-no falar! O Comandante não liga, ele não estava em Angola em 1961, ou, se estava, não

sofreu nada. Estava em Luanda, devia ser estudante, que sabe ele disso? E o Comissário? Nestas coisas o

Comissário é um mole, ele pensa que é com boas palavras que se convence o povo de Cabinda, este povo de

traidores. Só o Chefe de Operações....Mas esse é o terceiro no Comando, não tem força.

E eu fugi de Angola com a mãe. Era um miúdo. Fui para Kinshasa. Depois vim para o MPLA, chamado

pelo meu tio, que era dirigente. Na altura! Hoje não é, foi expulso. O MPLA expulsa os melhores, só porque

eles não deixam dominar pelos kikongos que o invadiram. Pobre MPLA! Só na Primeira Região ele ainda é o

mesmo, o movimento de vanguarda. E nós, os da Primeira Região, forçados a fazer a guerra aqui, numa região

alheia, onde não falam a nossa língua, onde o povo é contrarrevolucionário, e nós que fazemos aqui? Pobre

MPLA, longe da nossa Região, não pode dar nada!

Caminharam toda a tarde, subindo o Lombe. Pararam às cinco horas, para procurarem lenha seca e

preparem o acampamento: às seis horas, no Mayombe, era noite escura e não se podia avançar.

A refeição foi comum: arroz com feijão e depois peixe, que Lutamos e um trabalhador apanharam no

Lombe. Os trabalhadores não tentavam fugir, se bem que mil ocasiões se tivessem apresentado durante a

marcha. Sobretudo quando Milagre caiu com a bazuca e os guerrilheiros vieram ver o que se passara; alguns

trabalhadores tinham ficado isolados e sentaram-se, à espera dos combatentes, se escaparam. A confiança

provocava conversas animadas.

PEPETELA. Mayombe. São Paulo:Ática, 1982. P. 32-33.

Após a leitura do fragmento, responda.

1.O trecho do romance Mayombe apresenta quais indícios da violência do processo de colonização? E das

rivalidades étnicas e ideológicas?

2.Como o trecho do romance revela o desejo de consolidar a independência angolana pela literatura?

Soluções para a tarefa

Respondido por matheus140215
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Resposta:

(UHU) Se acha que vou responder... você está enganado.

Explicação:

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