Miguel não caiu. Miguel foi empurrado.
Se um coração bate aí dentro, não é pra você continuar bem ou indiferente depois de saber o que aconteceu com Miguel, menino de 5 anos que morreu ao cair do nono andar de um prédio no Recife, enquanto procurava pela sua mãe, Mirtes.
E já nem era para estar depois das mortes de Ágatha e do João Pedro, também crianças que perderam a vida depois de serem atingidas por disparos de armas policiais, igualmente responsáveis por assassinarem o músico, Evaldo Souza, e o catador de material reciclado, Luciano Macedo, com "acidentais" 80 tiros no ano passado -- pra não dizer tantos outros casos.
Só que Miguel não morreu pela brutalidade da força policial. E, acreditem, não foi pela negligência da patroa Sari Côrte Real, que não teve a paciência para cuidar do filho de sua funcionária por alguns minutos e, assim, conduzi-lo para o caminho que destinou à morte da criança.
Porque não foi um caso isolado. Foi uma coisa montada, construída.
Miguel morreu pela existência de uma estrutura no Brasil que faz uma mulher negra, quase que na obrigatoriedade de uma lei, passear com o cachorro da patroa, enquanto a patroa livra-se da responsabilidade de cuidar filho da mulher negra com a mesma indiferença que descartamos um objeto de lixo.
Por uma estrutura que, mesmo em tempos de pandemia e isolamento social necessário, obrigou Mirtes a continuar limpando o chão dos patrões, mesmo depois do marido de Sari, o prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB), ter afirmado que testara positivo para a Covid-19.
Por uma estrutura que obrigou Mirtes a levar o filho para o trabalho porque as creches e escolas estão fechadas e ela não teria com quem deixá-lo. Miguel morreu porque, no Brasil, 20 mil reais é o preço que uma pessoa rica paga para responder em liberdade depois de tirar o futuro de uma vida negra. Miguel caiu do nono andar porque a burguesia despreza as classes pobres. Não as toca. É indiferente, tira sarro e é insensível às vidas que não pertencem ao mundo dela e que não circulam nos mesmos espaços, senão as que estão ali para servi-la.
Uma burguesia que ama se autopromover como humanitária com doações e trabalhos voluntários, mas que torce o nariz para programas sociais do Estado e não vota em governos que propõem planos para diminuir a miséria, a pobreza e a fome.
Não são todos assim, obviamente.
Mas sei que existem pessoas que funcionam desse jeito, porque cresci, vivi, vivo e convivo nos biomas das classes média e rica. Já dei risada, joguei bola, estudei, trabalhei e sentei na mesma mesa que elas para comer, e conheci muita gente parecida com a Sari que minha cabeça construiu.
Só que mesmo vivendo sempre nesse ambiente, não tenho todas as respostas para as perguntas que eu comecei a fazer de uns anos pra cá. E uma delas é: por que os ricos, no bálsamo de uma vida privilegiada e confortável, têm tanto ódio?
Ódio a quê? E ódio a quem?
Por uma criança de 5 anos que, dentro de um repertório de linguagem ainda em construção, só tentava expressar o desejo de estar perto de sua mãe?
Eu não sei.
E um, ou vários dele, empurrou Miguel.
Mas sei que esse ódio, racista e muito brasileiro, existe e tem muitos braços -- na polícia, na presidência, na sociedade civil.
#JustiçaPorMiguel
(Caio Possati Campos)
01) Justifique o título dado ao texto, posicionando-se sobre ele:
02) No que a morte de Miguel difere das outras mortes citadas no texto?
03) O que significa a expressão "torcer o nariz"?
04) Por que você acha que os ricos, em geral, têm ódio dos pobres?
05) Como solucionar essa problemática? Explique:
06) Explique a passagem destacada no final do texto, justificando sua resposta:
07) Que mensagem o texto transmite? Comente:
08)Transcreva do texto uma antítese, explicando-a:
09) Copie do texto uma passagem que revela uma incoerência da burguesia, explicando sua escolha:
10) Por que você acha que os ricos, em geral, têm ódio dos pobres?
11) Como solucionar essa problemática? Explique:
12) Explique a passagem destacada no final do texto, justificando sua resposta:
13) A palavra BRAÇOS, também situada no final do texto, encontra-se no sentido denotativo ou conotativo? Por quê?
14) Copie do texto uma passagem em que o autor dialoga diretamente com o leitor:
Soluções para a tarefa
Respondendo a cada item do enunciado:
1) O título do texto infere que a morte de Miguel não foi um acidente, mas um assassinato.
2) Miguel morreu caindo do alto de um prédio, enquanto os outros morreram graças à balas perdidas.
3) Significa "ficar incomodado".
4) Não acredito que seja ódio, mas algo mais próximo de um desprezo, como se os pobres fossem inferiores de alguma maneira.
5) Reduzindo as desigualdades sociais no pais.
6) A passagem final do texto infere de que indiretamente existem muitos responsáveis pela morte de Miguel, que nunca serão punidos.
7) De que a desigualdade social é um mal, que causa milhares de mortes todos os anos.
8) O texto não possui antíteses.
9) "por que os ricos, no bálsamo de uma vida privilegiada e confortável, têm tanto ódio?"
Por eles serem ricos, tendo uma condição de vida boa, não faz sentido eles tem tanto ódio.
10) Não acredito que seja ódio, mas algo mais próximo de um desprezo, como se os pobres fossem inferiores de alguma maneira.
11) Reduzindo as desigualdades sociais no pais.
12) A passagem final do texto infere de que indiretamente existem muitos responsáveis pela morte de Miguel, que nunca serão punidos.
13) Sentido conotativo, já que essa palavra foi usada em sentido figurado.
14) No trecho "Se um coração bate aí dentro, não é pra você continuar bem ou indiferente depois de saber o que aconteceu com Miguel".
Resposta:
a resposta de acordo com a leitura do livro responda de acordo com a leitura do texto por que Miguel não respondeu ao chamado do coleguinha