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Pesquisar a história do indígena no Brasil, desde 1500 aos dias atuais
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Dentre inúmeras e diversas questões relatadas pelos convidados indígenas da roda de conversa Comunidades indígenas: vulnerabilidades, diálogo e proposições, realizada no último dia 19 pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro (IFTM), a fala de Edna Bezerra Pajeu (Edna Truka), liderança do povo TRUKÁ Tapera no município de Orocó/PE, reforçou ainda mais a urgente necessidade de conscientização e de reconhecimento pela sociedade brasileira da diversidade dos povos indígenas de nosso país e de suas lutas por direitos, até então pouco ou quase nada assegurados pelo Estado.
“A gente parece estar revivendo 1500 anos atrás o tempo todo. Então, as populações indígenas vivem em constante luta: luta para sobreviver, para garantir a integralidade de seus territórios sagrados, de suas identidades étnico-culturais; de suas religiosidades”, relatou Edna. A líder indígena destacou também que esses espaços de fala são muito importantes nessa e para essa luta, pois permitem desconstruir preconceitos e discriminações e construir novas visões e compreensões dos povos indígenas.
“As pessoas ainda nos veem de forma muito romântica. Também somos vistos sempre como iguais, como povos que não evoluem. E não é assim. Ao longo dos anos, a gente entendeu que também precisa se apropriar dos espaços, das leis. Precisamos entrar no campo de discussão para aprendermos a nos defender, para poder garantir nossa existência. E mais, a gente precisa mostrar para a sociedade quem nós somos e como nós gostaríamos de ser vistos”, afirmou Edna.
Darci Emiliano, Doutor em Educação Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Técnico Administrativo em Educação no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul) há 26 anos, compartilhou um pouco da realidade de seu povo indígena, os Kaingang do sul do Brasil, que hoje representam aproximadamente 40.000 pessoas.
Destacou que na cosmologia Kaingang em tudo há espiritualidade e que são povos das florestas, da oralidade e da coletividade. Também ressaltou sobre a importância dos indígenas falarem sobre si mesmos para si e para os brancos e que no atual cenário político-social que estamos vivendo, conquistas dos povos indígenas vêm sofrendo retrocessos e que, portanto, “a luta continua e sempre vai continuar”, enfatizou Darci.
Trazendo o tema da roda de conversa para o centro de sua fala, Darci apontou como conquistas das comunidades indígenas de sua região, a formação de professores bilíngues e de agentes de saúde; cotas nas universidades e Institutos Federais; acesso à tecnologia; alfabetização; dentre outras. Porém, expôs que em 8 anos, de 2012 a 2020, ainda apenas 2 indígenas concluíram cursos técnicos no IFSul e apenas 1 concluiu a graduação.
Como vulnerabilidades de seu povo, trouxe questões históricas como a luta por terras e o tão antigo quanto genocídio das populações indígenas, ambos ocorridos desde a invasão portuguesa às terras brasileiras. “As lutas históricas pelas terras não são movimentos recentes. Já faz muito tempo. Se vamos analisar, vem desde quando os portugueses invadiram nossas terras. Nos consideravam como selvagens e canibais e não como pessoas humanas. Daí começa também a prática do genocídio. Éramos caçados como animais”.
Ainda como vulnerabilidades, relatou falta de livros em língua própria, falta de empregos, discriminações e preconceitos, inclusive dentro de universidades e de Institutos Federais. “Todas essas vulnerabilidades, dentre inúmeras outras que existem, nos impedem de termos uma existência sadia”, enfatizou Darcy.
O representante dos Kaingang apresentou como proposições para superação dessas vulnerabilidades, até então ainda presentes no dia a dia das populações indígenas, o movimento pelo direito à terra e à vida, denominado “Demarcação já”; manutenção da forma tradicional de sustentabilidade nos espaços indígenas com objetivo de subsistência, pois os povos indígenas vivem para manter a diversidade, em oposição à ganância dos brancos; escrita indígena pelos próprios indígenas; retomada de valores éticos e do trabalho coletivo; manutenção de contato com outras terras indígenas; constante diálogo com a sociedade, etc.
O evento online contou com a participação de estudantes e servidores do IFTM e de outras instituições e da sociedade de forma geral, totalizando 280 pessoas. A abertura foi feita pela reitora do IFTM, Deborah , que falou da relevância desse momento de reflexão.“Sabemos que temos uma ampla diversidade de povos indígenas, por exemplo, na nossa região do Triângulo Mineiro que formaram a nossa cultura. Porém, pouco temos discutido isso em nossos currículos. Temos uma população indígena não olhada que praticamente não acessa nossa instituição, apesar das cotas. Então nós temos sim que debater, que discutir, que compartilhar vivências para que possamos construir um ensino para todos”.