Leia o texto e observe a fotografia abaixo. A seguir, responda às questões propostas.
Nascer hindu na Índia é entrar para o sistema de castas, uma das mais antigas formas de estratificação ainda em vigor. Arraigado na cultura indiana há 1,5 mil anos, o sistema segue um preceito básico: todos são criados desiguais. A hierarquização da sociedade hindu originou-se de uma lenda na qual os quatro principais grupos, ou varnas, emergem de um ser primordial [...].
Um quinto grupo consiste nas pessoas que são achuta, ou intocáveis. Não vieram do ser primordial. Eles são os excluídos – pessoas demasiado impuras para classificar-se como seres dignos. O preconceito define sua vida, particularmente nas áreas rurais, onde vivem três quartos da população indiana. Os intocáveis são evitados, insultados, proibidos de frequentar templos e casas de castas superiores, obrigados a comer e beber em utensílios separados em lugares públicos e, em casos extremos, mas não incomuns, são estuprados, queimados, linchados e baleados.
O antigo sistema de crenças que criou os intocáveis prepondera sobre a lei moderna. Embora a Constituição da Índia proíba a discriminação de castas e especificamente tenha abolido a condição de intocáveis, o hinduísmo, religião de 80% da população da Índia, governa a vida diária com suas hierarquias e seus rígidos códigos sociais [...].
Os intocáveis executam o “trabalho sujo” da sociedade – atividade que requer contato físico com sangue e excrementos humanos. Os intocáveis cremam os mortos, limpam latrinas, cortam cordões umbilicais, removem animais mortos das ruas, curtem couro, varrem sarjeta. Esses trabalhos, e a condição de intocável, são transmitidos aos descendentes. [...]
Muita gente argumentaria que as formas mais brutais de discriminação já desapareceram, resultado de movimentos reformistas esporádicos. É verdade que, pelo menos na esfera pública, os intocáveis fizeram progresso desde o tempo em que eram espancados se sua sombra tocasse alguém de casta superior, usavam sinos para alertar de sua aproximação e levavam baldes para que não contaminassem o chão ao cuspir. Eles não podiam entrar em escolas nem se sentar em nenhum banco perto de alguém de casta superior.
A Constituição de 1950 impõe um sistema de cotas em que são reservados cargos na legislatura federal em proporção igual à dos intocáveis na população: 15%. No jargão jurídico e administrativo, eles agora são conhecidos como “castas arroladas”. Lugares reservados aos intocáveis têm também legislaturas estaduais, conselhos de aldeia, no serviço público e nas salas das universidades.
Os partidos dirigentes da Índia apoiaram esse programa de cotas apesar da violenta oposição. Turbas causaram tumultos durante 78 dias, em 1981, no estado de Gujarat, quando um estudante de casta superior não foi admitido em uma faculdade de medicina para dar lugar a um intocável. [...]
Apesar de todas as leis, porém, o cerne do sistema de castas segue inalterado. [...]
(O’NEILL, Tom. Intocáveis. National Geographic Brasil. São Paulo: Abril, jun. 2003, p. 38-67).
a) Com base na leitura do capítulo, explique como se justifica a existência do sistema de castas na Índia.
b) Em sua opinião, a vigência do sistema de castas na Índia é compatível com o sistema democrático que rege a vida política do país desde 1950? Justifique.
c) Observe com atenção a fotografia que ilustra o texto. Você já presenciou alguma cena semelhante a essa no Brasil?
d) Para combater a exclusão produzida pelo sistema de castas, os indianos adotaram um sistema de cotas que assegura aos intocáveis o acesso à Câmara Legislativa, à universidade e ao serviço público, por exemplo. No Brasil, o sistema de cotas também foi adotado com a finalidade de favorecer a inclusão de grupos historicamente vítimas de exclusão social. Em sua opinião, o sistema de cotas poderá, a longo prazo, favorecer a constituição de uma sociedade mais igualitária? Justifique.
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As respostas são subjetivas e provêm de questionamentos propostos pelo exercício, sinta-se livre para discordar (com exceção da A):
a) O sistema de castas na Índia vem de uma religião exercida na região há milhares de anos, o hinduísmo, terceira religião com maior número de adeptos no mundo. A divisão da sociedade decorre da crença de que as castas foram originadas de diferentes partes do corpo de Brahma, deus que arquitetou o Universo. As castas superiores vieram de sua cabeça (brâmanes, inicialmente sacerdotes detentores do conhecimento e poder político) e de seus braços (xátrias, guerreiros). Depois temos os vaixás, comerciantes e artesãos que seriam as pernas de Brahma, e os sudras, seus pés, trabalhadores servis subjugados às três castas superiores. Finalmente, há os "sem castas", párias que não vieram do corpo de Brahma, completamente marginalizados.
b) A discriminação por castas ainda vigente no país é claramente um contrassenso em relação ao governo democrático que se estabeleceu no país, pois estabelece desigualdades sociais enrijecidas que marginalizam parcelas da população e privilegiam outras, sendo que a ideia contemporânea de democracia, sob preceitos que remetem à revolução francesa, defende a igualdade dos homens perante a lei.
c) Sim, infelizmente, o que é institucionalizado na Índia também se observa em um país declaradamente democrático que visa proporcionar as mesmas oportunidades a todos. A miséria de parte da população de países considerados em desenvolvimento dentro do sistema capitalista reflete-se naquela estabelecida há mais de mil anos na Índia sob justificativas religiosas.
d) Sim. O sistema de cotas faz-se necessário para sanar - ainda que alguns argumentem, "artificialmente" - exclusões sociais impostas artificialmente sob pretextos escusos de preconceito. Os questionamentos sociais atuais têm combatido algumas noções falíveis de "meritocracia".
a) O sistema de castas na Índia vem de uma religião exercida na região há milhares de anos, o hinduísmo, terceira religião com maior número de adeptos no mundo. A divisão da sociedade decorre da crença de que as castas foram originadas de diferentes partes do corpo de Brahma, deus que arquitetou o Universo. As castas superiores vieram de sua cabeça (brâmanes, inicialmente sacerdotes detentores do conhecimento e poder político) e de seus braços (xátrias, guerreiros). Depois temos os vaixás, comerciantes e artesãos que seriam as pernas de Brahma, e os sudras, seus pés, trabalhadores servis subjugados às três castas superiores. Finalmente, há os "sem castas", párias que não vieram do corpo de Brahma, completamente marginalizados.
b) A discriminação por castas ainda vigente no país é claramente um contrassenso em relação ao governo democrático que se estabeleceu no país, pois estabelece desigualdades sociais enrijecidas que marginalizam parcelas da população e privilegiam outras, sendo que a ideia contemporânea de democracia, sob preceitos que remetem à revolução francesa, defende a igualdade dos homens perante a lei.
c) Sim, infelizmente, o que é institucionalizado na Índia também se observa em um país declaradamente democrático que visa proporcionar as mesmas oportunidades a todos. A miséria de parte da população de países considerados em desenvolvimento dentro do sistema capitalista reflete-se naquela estabelecida há mais de mil anos na Índia sob justificativas religiosas.
d) Sim. O sistema de cotas faz-se necessário para sanar - ainda que alguns argumentem, "artificialmente" - exclusões sociais impostas artificialmente sob pretextos escusos de preconceito. Os questionamentos sociais atuais têm combatido algumas noções falíveis de "meritocracia".
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