Leia o texto abaixo.
A Viúva Sobral
[...] – Vou casar.
Cesário deixou cair o queixo de assombro [...].
– Casar? repetiu ele afinal, e o Brandão respondeu-lhe com a cabeça que sim, que ia casar. [...]
Viviam juntos esses dois rapazes desde os onze anos, e mais intimamente desde os dezesseis. Contavam agora vinte e oito. [...] Tinham uma parte da vida comum, e comuns os sentimentos. Assim é que ambos faziam do casamento a mais deplorável ideia [...].
Brandão contou tudo ao amigo. Cerca de algumas semanas antes, Cesário levara-o à casa de um amigo [...]; e ali acharam [...] uma recente viúva, D. Candinha Sobral. A viúva era bonita, afável, dispondo de uns olhos que os dois concordaram em achar singulares. [...]
Saíram depois de longo tempo de conversação [...]. Cesário mal podia crer que o mesmo homem, que antipatizara com a viúva [...], quinze dias depois estivesse apaixonado ao ponto de casar. [...]
A viúva Sobral não tinha menos de vinte e sete anos nem mais de trinta; ponhamos vinte e oito.
[...] Vamos e venhamos: a viúva gostava um pouco do Brandão; não digo muito, digo um pouco, e talvez muito pouco. Não lhe parecia grande coisa, mas sempre era mais que nada. Ele fazia-lhe amiudadas visitas e olhava muito para ela; mas, como era tímido, não lhe dizia nada [...].
Um dia recebeu Cesário um convite da viúva para lá ir a uma reunião familiar: era lembrança do Brandão, que foi ter com ele e pediu-lhe instantemente que não faltasse. Cesário sacrificou o teatro nessa noite, e foi. A reunião esteve melhor do que ele esperava; divertiu-se muito. [...]
D. Candinha percebeu, em pouco tempo, que em vez de um, tinha dois adoradores. [...]
Um dia o Brandão descobriu um olhar trocado entre o amigo e a viúva. Naturalmente ficou desconsolado, mas não disse nada; esperou. Daí a dias notou mais dois olhares, e passou mal a noite, dormiu tarde e mal [...].
Naturalmente as desconfianças reviveram, e assim as explicações, e começaram os azedumes e as brigas. Uma noite, ceando os dois, de volta da casa dela, estiveram a ponto de brigar formalmente. Mais tarde separaram-se por dias [...].
Nisto apareceu no horizonte uma pequenina mancha branca; era algum navio que se aproximava com as velas abertas. Era navio e de alto bordo; – um viúvo, médico, ainda conservado, que entrou a cortejar a viúva. Chamava-se João Lopes. [...] A viúva foi passar alguns dias fora [...].
[...] Quatro meses depois casava ela com o médico. Quanto ao Brandão e o Cesário, que estavam já brigados, nunca mais se falaram [...]. O triste é que ambos começaram por não gostar da mesma mulher, como o leitor sabe, se se lembra do que leu.
ASSIS, Machado de. A Viúva Sobral. In: Domínio Público. Disponível em: . Acesso em: 2 ago. 2022. Fragmento.
Esse texto é um exemplo de
biografia.
conto.
diário.
reportagem.
resenha.
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Esse texto é um exemplo de:
B. conto.
Elementos que fazem os leitores compreenderem que se trata de um conto
Ao se passar em um período distante, como no passado, temos a primeira característica do conto.
Além disso, o diálogo dado por um narrador também infere outra característica, já que um tipo de história e enredo sobre Brandão e o Cesário e uma viúva nos é contado.
O conto é um gênero de aspecto literário (o que conta uma narrativa). Nele, as histórias do texto sempre apresentam apenas um único clímax, assim como o seu próprio universo, juntamente com seus personagens e acontecimentos de origem imaginária ou de ficção.
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