Leia o fragmento inicial do conto “A repartição dos pães”, de Clarice Lispector.
Era sábado e estávamos convidados para o almoço de obrigação. Mas cada um de nós gostava demais do sábado para gastá-lo com quem não queríamos. Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo. Eu, eu queria tudo. E nós ali presos, como se nosso trem tivesse descarrilado e fôssemos obrigados a pousar entre estranhos.Ninguém ali me queria, eu não queria a ninguém. Quanto a meu sábado — que fora da janela se balançava em acácias e sombras — eu preferia, a gastá-lo mal, fechá-lo na mão dura, onde eu o amarfanhava como a um lenço. À espera do almoço, bebíamos sem prazer, à saúde do ressentimento: amanhã já seria domingo.
A. Levante hipóteses: na casa de quem seria o “almoço de obrigação” a que a narradora se refere?B. Reveja estas diferentes ocorrências do verbo querer no texto. O sentido é o mesmo nos dois casos? Explique.“Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo. Eu, eu queria tudo.” “Ninguém ali me queria, eu não queria a ninguém.” C. Qual é a regência do verbo querer em cada uma dessas duas ocorrências? D.Transcreva no caderno a frase em que foi usado o verbo preferir. Quais são, nesse caso, seus complementos direto e indireto? E. Com base nessa construção com o verbo preferir, deduza qual foi o comportamento da narradora durante o almoço.
Soluções para a tarefa
1) Qual é a tipologia predominante no conto:
a) Narrativa.
b) Argumentativa.
c) Descritiva.
2) Qual a temática do conto?
Um almoço por obrigação.
3) Quais personagens fazem parte dessa narrativa?
Os convidados e a dona da casa.
4) Qual o cenário em que se desenrola a história?
Era um sábado e as pessoas convidados para o almoço estavam ali por obrigação.
5) Descreva o que “era uma mesa para os homens de boa-vontade”.
A mesa fora coberta por uma solene abundância. Sobre a toalha branca amontoavam-se espigas de trigo. E maçãs vermelhas, enormes cenouras amarelas, redondos tomates de pele quase estalando, chuchus de um verde líquido, abacaxis malignos na sua selvageria, laranjas alaranjadas e calmas, maxixes eriçados como porcos-espinhos, pepinos que se fechavam duros sobre a própria carne aquosa, pimentões ocos e avermelhados que ardiam nos olhos – tudo emaranhado em barbas e barbas úmidas de milho, ruivas como junto de uma boca. E os bagos de uva. As mais roxas das uvas pretas e que mal podiam esperar pelo instante de serem esmagadas. E não lhes importava esmagadas por quem. Os tomates eram redondos para ninguém: para o ar, para o redondo ar. Sábado era de quem viesse. E a laranja adoçaria a língua de quem primeiro chegasse.
6) Em que passagem do texto ocorre o clímax, ou seja, o momento que surpreende a todos?
Quando os convidados passam para a sala do almoço e se deparam com uma mesa coberta por uma solene abundância.
7) No conto o narrador participa da história ou simplesmente conta a história estando fora dela? Qual o nome dado a esse tipo de narrador?
Sim, o narrador participa da história.
Narrador-personagem.
8) Do ponto de vista da norma culta, a única substituição/mudança que poderia ser feita, sem alteração de valor semântico e linguístico, seria:
a) “ali mesmo ofereci o que eu sentia àquilo que me fazia sentir” = ali mesmo ofereci o que eu sentia àquilo que fazia-me sentir.
b) “Tudo cortado pela acidez espanhola que se adivinhava nos limões verdes” = Tudo cortado pela acidez espanhola que adivinhava-se nos limões verdes.
c) “Mas cada um de nós gostava demais de sábado para gastá-lo com quem não queríamos”. = Mas cada um de nós gostava demais de sábado para o gastar com quem não queríamos.
d) “Só a dona da casa não parecida economizar o sábado para usá-lo numa quinta de noite”. = Só a dona da casa não parecia economizar o sábado para usá-lo numa quinta de noite”.
e) “Quanto a meu sábado – que fora da janela se balançava em acácias e sombras – eu preferia, a gastá-lo mal”. = Quanto a meu sábado – que fora da janela se balançava em acácias e sombras – eu preferia, do que gastá-lo mal.
9) No início o narrador relata de uma forma como se não conhecesse a mulher que "lava o pé de qualquer estrangeiro", porém ao final do conto relata qual o grau de parentesco com ela. Qual era?
Ela era sua mãe.
10) E em uma simples frase o narrador deixa isso bem claro: "A cordialidade era rude e rural". As analogias são feitas à quê?
À Santa Ceia como: o dia de sábado como hospitaleiro e dos homens