Português, perguntado por juliafoca9795, 1 ano atrás

Leia este texto.Mas o meu novíssimo amigo, debruçado da janela, batia as palmas – como Catão para chamar os servos, na Roma simples. E gritava. – Ana Vaqueira! Um copo de água, bem lavado, da fonte velha!Pulei, imensamente divertido: – Oh Jacinto! E as águas carbonatadas? E as fosfotadas? E as esterilizadas? E as sódicas?… O meu Príncipe atirou os ombros com um desdém soberbo. E aclamou a aparição de um grande copo, todo embaciado pela frescura nevada da água refulgente, que uma bela moça trazia num prato. Eu admirei sobretudo a moça… Que olhos, de um negro tão líquido e sério! No andar, no quebrar da cinta, que harmonia e que graça de ninfa latina! E apenas pela porta desaparecera a esplêndida aparição: – Oh Jacinto, eu daqui a um instante também quero água! E se compete a esta rapariga trazer as coisas, eu, de cinco em cinco minutos, quero uma coisa!… Que olhos, que corpo. Caramba, menino! Eis a poesia, toda viva, da serra… O meu Príncipe sorria, com sinceridade: – Não! Não nos iludamos, Zé Fernandes, nem façamos Arcádia. É uma bela moça, mas uma bruta… Não há ali mais poesia, nem mais sensibilidade, nem mesmo mais beleza do que numa linda vaca turina. Merece o seu nome de Ana Vaqueira. Trabalha bem, digere bem, concebe bem. Para isso a fez a Natureza, assim sã e rija (…). (Eça de Queirós, A cidade e as serras). a) No período em que Jacinto passa a viver na serra, tornam-se relativamente frequentes, no romance, as referências à cultura da Antiguidade Clássica. Con - sideradas no contexto da obra, o que conotam as referências que o narrador, no excerto, faz a aspectos dessa cultura? b) Considerando-a no contexto em que aparece, explique a expressão “nem façamos Arcádia”, empregada por Jacinto.

Soluções para a tarefa

Respondido por sabrinasilveira78
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a) "A Cidade e as Serras" apresenta a história de Jacinto, homem milionário e sofisticado, que só consegue encontrar a felicidade após afastar-se de Paris, metrópole moderna, e da obsessão pelo progresso científico, pois esse modo de vida mostrou-se, para ele, como sendo vazio e entediante.

Jacinto encontra a paz e o desenvolvimento pessoal no interior de Portugal, mais especificamente na região serrana. Longe da modernidade, além de abandonar as paixões fúteis pela busca exagerada da "última novidade", a personagem retoma ideais da Antiguidade Clássica, especialmente os ideais da Arcádia, que é a desvalorização da vida civilizada, o aprofundamento do contato com a natureza e o desinteresse pelas ilusões da cidade.

Esse processo de desenvolvimento pessoal revela a recuperação de princípios humanistas e bucólicos dessa vivência greco-romana, que valoriza o homem e sua qualidade de vida.


b) "Nem façamos Arcádia" é uma expressão que se refere à poesia greco-romana e que tem, na região campestre de Arcádia, uma espécie de Paraíso, que encontra-se afastado e protegido das mazelas urbanas.

Essa frase de Jacinto deixa claro que Tormes (cidade serrana, localizada no interior de Portugal), apesar de estar longe dos malefícios da zona urbana, não deve ser idealizada. Como comprovação disso, encontramos Ana vaqueira, que é uma bruta, bem como seu companheiro, que são genuínos habitantes do campo, feitos somente para cumprirem as funções mais básicas da existência. Esses elementos são bastante diferentes da utópica Arcádia.




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