Leia a seguir um trecho do Livro dos Mortos que trata da defesa do
morto no Tribunal de Osíris.
a
Não cometi mal contra os
homens.
Não fiz violência ao pobre.
Não difamei escravo diante de seu
superior.
Não aumentei nem diminuí a
medida de grão.
Não acrescentei nada ao peso da
balança. [...]
Não tirei o leite da boca das
crianças. [...]
Não roubei. Não fui cobiçoso. [...]
Dei pão ao faminto, água ao
sedento, roupa ao nu.
José L. Sicre A justiça social nos profetas. São Paulo
Paulinas, 1990. p. 24-25.
Detalhe de papiro em que vemos
o deus Osiris. Museu de Londres
Inglaterra.
1. Copie a frase que indica haver desigualdade social no Egito.
2. Lendo esse trecho do Livro dos Mortos, percebemos que alguns
comerciantes egípcios agiam de má-fé. Como isso aparece no texto?
3. Com base no texto, é possível saber qual(is) atitude(s) era(m)
condenada(s) no Tribunal de Osíris?
4. As atitudes condenadas no Tribunal de Osíris continuam presentes no
mundo atual?
Soluções para a tarefa
Resposta:
A ideia central do Livro dos Mortos é o respeito à verdade e à justiça, mostrando o elevado ideal da sociedade egípcia. Era crença geral que diante da deusa Maat de nada valeriam as riquezas, nem a posição social do falecido, mas que apenas os atos seriam levados em conta. Foi justamente no Egito que esse enfoque de que a sorte dos mortos dependia do valor da conduta moral enquanto vivo ocorreu pela primeira vez na história ocidental, visto que entre os habitantes do Vale do Rio Indo já existiam as noções de Karma e Dharma, ações que resultariam numa reação nesta e em outras vidas . Mil anos mais tarde, — diz Kurt Lange - essa ideia altamente moral não se espalhara ainda por nenhum dos povos civilizados que conhecemos. Em Babilônia, como entre os hebreus, os bons e os maus eram vítimas no além, e sem discernimento, das mesmas vicissitudes.
Não resta dúvida de que o julgamento dos atos após a morte devia preocupar, e muito, a maioria dos egípcios, religiosos que eram. Para os egípcios esse conjunto de textos era considerado como obra do deus Thoth. As fórmulas contidas nesses escritos podiam garantir ao morto uma viagem tranquila para o paraíso e, como estavam grafadas sobre um material de baixo custo, permitiam que qualquer pessoa tivesse acesso a uma terra bem-aventurada, o que antes só estava ao alcance do rei e da nobreza. Em verdade, essa compilação de textos era intitulada pelos egípcios de Capítulos do Sair à Luz ou Fórmulas para Voltar à Luz (Reu nu pert em hru), o que por si só já indica o espírito que presidia a reunião dos escritos, ainda que desordenados. Era objetivo desse compêndio, nos ensina o historiador Maurice Crouzet, fornecer ao defunto todas as indicações necessárias para triunfar das inúmeras armadilhas materiais ou espirituais que o esperavam na rota do "ocidente".
O Livro dos Mortos não era um "livro" no sentido coeso da palavra. A atual ideia de livro sugere a existência de um autor (ou autores) que propositadamente redige um texto com um princípio, meio e fim. Em vez disso, os textos que integram o que hoje se denomina por Livro dos Mortos não foram escritos por um único autor nem são todos da mesma época histórica. Um dos escritores mais conhecido por colaborar com uma parte desse livro foi Snefferus S. Karnak.
Os antigos egípcios denominavam a esta coletânea de textos como Prt m hru , o que pode ser traduzido como "A Manifestação do Dia" ou "A Manifestação da Luz". A atual designação é disputada entre duas origens. A primeira refere-se ao título dado aos textos pelo egiptólogo alemão Karl Richard Lepsius quando os publicou, em 1842 - Das Todtenbuch der Ägypter (Todtenbuch, Livro dos Mortos). Afirma-se igualmente que o título possa ser oriundo do nome que os profanadores dos túmulos davam aos papiros que encontravam junto às múmias - em árabe, Kitab al-Mayitun (Livro do Defunto).