Já na Grécia Antiga, o grande desenvolvimento das técnicas retóricas conferiu aos mestres nessa disciplina um enorme poder: o poder de persuadir, de influenciar os outros de acordo com seus interesses momentâneos, nem sempre mantendo a fidelidade à verdade. Sócrates passou a discutir oralmente, com todos que encontrava disponíveis, essa questão. Em seguida, depois de ter denunciado essa manipulação nas votações em que se decidiam os destinos de Atenas, foi condenado à morte. Platão, um de seus discípulos, encarregou-se de recriar algumas dessas conversações, redigindo os Diálogos de Platão, obra fundamental na Filosofia Antiga. As próximas quatro questões tomam por base o seguinte fragmento do diálogo Fedro, de Platão:
SÓCRATES: — Vamos então refletir sobre o que há pouco estávamos discutindo; examinaremos o que seja recitar ou escrever bem um discurso, e o que seja recitar ou escrever mal.
FEDRO: — Isso mesmo.
SÓCRATES: — Pois bem: não é necessário que o orador esteja bem instruído e realmente informado sobre a verdade do assunto de que vai tratar?
FEDRO: — A esse respeito, Sócrates, ouvi o seguinte: para quem quer tornar-se orador consumado não é indispensável conhecer o que de fato é justo, mas sim o que parece justo para a maioria dos ouvintes, que são os que decidem; nem precisa saber tampouco o que é bom ou belo, mas apenas o que parece tal — pois é pela aparência que se consegue persuadir, e não pela verdade.
SÓCRATES: — Não se deve desdenhar, caro Fedro, da palavra hábil, mas antes refletir no que ela significa. O que acabas de dizer merece toda a nossa atenção.
FEDRO: — Tens razão.
SÓCRATES: — Examinemos, pois, essa afirmação.
FEDRO: — Sim. [...]
SÓCRATES: — Quando um orador, ignorando a natureza do bem e do mal, encontra os seus concidadãos na mesma ignorância e os persuade a tomar [...] o mal pelo bem; quando, conhecedor dos preconceitos da multidão, ele a impele para o mau caminho, — nesses casos, a teu ver, que frutos a retórica poderá recolher daquilo que ela semeou?
FEDRO: — Não pode ser muito bom fruto.
SÓCRATES: — Mas vejamos, meu caro: não nos teremos excedido em nossas censuras contra a arte retórica? Pode suceder que ela responda: “que estais a tagarelar, homens ridículos? Eu não obrigo ninguém – dirá ela – que ignore a verdade a aprender a falar. Mas quem ouve o meu conselho tratará de adquirir primeiro esses conhecimentos acerca da verdade para, depois, se dedicar a mim. Mas uma coisa posso afirmar com orgulho: sem as minhas lições a posse da verdade de nada servirá para engendrar a persuasão”.
FEDRO: — E não teria ela razão dizendo isso?
SÓCRATES: — Reconheço que sim, se os argumentos usuais provarem que de fato a retórica é uma arte; mas, se não me engano, tenho ouvido algumas pessoas atacá-la e provar que ela não é isso, mas sim um negócio que nada tem que ver com a arte. O lacônio declara: “não existe arte retórica propriamente dita sem o conhecimento da verdade, nem haverá jamais tal coisa”.
Platão. Diálogos. Porto Alegre: Globo, 1962.
(Vunesp) “Não se deve desdenhar, caro Fedro, da palavra hábil, mas antes refletir no que ela significa”. Nessa frase, Sócrates, para rotular o tipo de discurso que acaba de ser sugerido por Fedro, emprega “palavra hábil” com o sentido de:
A
discurso prolixo e ininteligível.
B
pronúncia adequada das palavras.
C
habilidade de leitura.
D
expressão de significados contraditórios, absurdos.
E
discurso eficiente em seus objetivos.
Soluções para a tarefa
Respondido por
5
A alternativa correta é "E"
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