Husserl foi um idealista estrito?
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Resposta:
Husserl apresenta a sua fenomenologia como um método de investigação que tem o propósito de apreender o fenômeno , isto é, a aparição das coisas à consciência, de uma maneira rigorosa. “Como um método de pesquisa, a fenomenologia é uma forma radical de pensar” (MARTINS, 2006, p. 18). Como as coisas do mundo se apresentam à consciência, o filósofo alemão pretende perscrutar essa aparição no sentido de captar a sua essência (aquilo que o objeto é em si mesmo), isto é, “ir ao encontro das coisas em si mesmas” (HUSSERL, 2008, p. 17). Nesse sentido, a filosofia husserliana traz consigo um novo método de investigação que irá exercer grande influência no meio acadêmico, o que fará da fenomenologia um marco imprescindível na filosofia contemporânea. É oportuno enfatizar que a filosofia de Husserl é um tanto quanto vasta e densa, o que requer, por sua vez, certo esforço para interpretá-la. Diante disso, enfocaremos aqui apenas os aspectos capitais do pensamento husserliano.
O rigor que Husserl reivindica para o seu método fenomenológico advém do propósito desse pensador em dispensar à filosofia o mesmo rigor metodológico conferido à ciência. Por ter efetuado estudos nos campos da matemática e da lógica, Husserl sempre nutriu certo apreço pelo rigor metodológico. Contudo, Husserl não via “com bons olhos” os métodos empregados, por exemplo, pela psicologia experimental. Isso porque essa ciência, como outras ciências experimentais, parte dos dados empíricos para daí desenvolver seus postulados. Para o filósofo alemão, a instabilidade dos dados da empiria não fornecem o rigor necessário concernente à investigação filosófica. Assim, “enquanto a ciência positivista restringe seu campo de análise ao experimental, a fenomenologia abre-se a regiões veladas para esse método, buscando uma análise compreensiva e não explicativa dos fenômenos” (LAPORTE e VOLPE, 2009, p. 52 ) . Em contrapartida, o pensador alemão propõe a “análise compreensiva” da consciência, uma vez que todas as vivências (Erlebnis) do mundo se dão na e pela consciência . Daí a tão célebre definição husserliana de consciência: “toda consciência é consciência de algo” (FRAGATA, 1959, p. 130). Essa definição de consciência está vinculada, por seu turno, à noção de intencionalidade . Para Husserl, “a palavra intencionalidade significa apenas a característica geral da consciência de ser consciência de alguma coisa” (Idem, grifo do autor). Eis o ponto de partida adotado pelo filósofo alemão: a análise dos fenômenos no âmbito da consciência no intuito de se tentar apreender as coisas em si mesmas, isto é, como elas são. Podemos dizer que em Husserl o cogito cartesiano ganha uma nova roupagem onde a intencionalidade (toda consciência é consciência de) assume o lugar da certeza “clara e distinta” de René Descartes.A intencionalidade seria a marca fundamental da consciência, uma vez que a consciência está o tempo todo voltada para fora de si. Contudo, a consciência não é considerada por Husserl como se fosse uma substância ou um invólucro a partir do qual o mundo brotaria:
(...) O princípio de intencionalidade é que a consciência é sempre ‘consciência de alguma coisa’, que ela só é consciência estando dirigida a um objeto (sentido de intentio). Por sua ve relação à consciência, ele é sempre objeto-para-um-sujeito. (...) Isto não quer dizer que o objeto está contido na consciência como que dentro de uma caixa, mas que só tem seu sentido de objeto para uma consciência (DARTIGUES, 2005, p. 212, grifo do autor). A ênfase dada por Husserl à análise da consciência será uma das marcas capitais de sua filosofia. Seu método investigativo-filosófico procura ater-se sobretudo ao modo mesmo como a consciência se dá, nos seus pormenores, sem recorrer a "muletas" conceituais que venham a "explicar" a subjetividade (a consciência como res cogitans , por exemplo).O conceito husserliano de intencionalidade traz no seu seio as noções de intenção, intuição e evidência apodítica. Husserl chama de “intenção” o conteúdo significativo de alguma coisa. Temos a intenção de um objeto (um livro sobre a mesa) quando possuimos apenas o significado intencional desse livro (bem como da mesa). No entanto, no momento dessa intenção não há efetivamente a presença em carne e osso do livro e da mesa. Em outras palavras: existe apenas uma “intenção significativa” (Bedeutungsintention), quando “significamos intencionalmente” (meinen) o objecto, sem considerar ainda a sua presença, por exemplo, se temos só em conta o conteúdo significativo de um prado. Esta “intenção” pode ser preenchida pela presença do objecto, por exemplo, se nos colocamos diante do prado; neste caso temos uma “intuição”. A intuição é portanto o preenchimento duma intenção. A evidência é a consciência da intuição.
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