Hábito Nacional
Por uma destas coincidências fatais, várias personalidades brasileiras, entre civis e militares, estão no avião que começa a cair. Não há possibilidades de se salvarem. O avião irá se "espatifá" – e, levando-se em consideração o caráter dos seus passageiros, “espatifar” é o termo apropriado – no chão. Nos poucos instantes que lhes restam de vida, todos rezam, confessam seus pecados, em versões resumidas, e entregam sua alma à providência divina. O avião se espatifa no chão.
São Pedro os recebe de cara amarrada. O porta-voz do grupo se adianta e, já esperando o pior, começa a explicar quem são e de onde vêm. São Pedro interrompe com um gesto irritado.
– Eu sei, eu sei.
Aponta para uns formulários em cima de sua mesa e diz:
– Recebemos suas confissões e seus pedidos de clemência e entrada no céu. O Porta-voz engole em seco e pergunta:
– E… então?
São Pedro não responde. Olha em torno, examinando a cara dos suplicantes. Aponta para cada um e pede que se identifiquem pelo crime:
– Torturador.
– Minha financeira estourou. Enganei milhares.
– Corrupto. Menti para o povo.
– Sabe a bomba, aquela? Fui o responsável.
– Roubei.
– Me locupletei.
– Matei.
"Etcétera" . São Pedro sacode a cabeça. Diz:
– Seus requerimentos passaram pela Comissão de Perdão e foram rejeitados por unanimidade. Passaram pelo Painel de Admissões, uma mera formalidade, e foram rejeitados por unanimidade. Mas como nós, mais que ninguém, termos que ser justos, para dar o exemplo, examinamos os requerimentos também na Câmara Alta, da qual eu faço parte. Uma maioria esmagadora votou contra. Houve só um voto a favor. infelizmente, era o voto mais importante.
– Você quer dizer…
– É. Ele. Neste caso, anulam-se todos os pareceres em contrário e prevalece a vontade soberana d’Ele. Isto aqui ainda é o Reino dos Céus.
– E nós podemos entrar?
São Pedro suspira.
– Podem. Se dependesse de mim, iam direto para o Inferno. Mas…
Todos entram pelo Portão do Paraíso, dando risadas e se congratulando. Um querubim que assistia à cena vem pedir explicações a São Pedro.
– Mas como é que o Todo-Poderoso não castiga essa gente?
E São Pedro, desanimado:
– Sabe como é, brasileiro…
VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comédias Para se Ler na Escola. Objetiva, 2001.
1- Após atribuir sentido ao texto, é possível compreender que o objetivo do cronista ao colocar como vítimas do acidente aéreo personalidades brasileiras entre civis e militares é de:
a)apresentar as personagens que estavam naquela situação crítica com o propósito de o leitor favoritar umas e menosprezar outras.
b)menosprezar os civis, uma vez que são os únicos a pedirem perdão, enquanto os militares tomam outras providências sensatas e se salvam do acidente.
c)igualar os envolvidos, uma vez que, em um momento como aquele, não tiveram outra opção senão agirem da mesma forma: pedindo clemência por seus atos.
d)menosprezar os militares que, por sua importância e formação, deveriam fazer algo para que o acidente fosse evitado, o que não o fizeram.
e)comparar os envolvidos, uma vez que, em um momento como aquele, alguns pronunciaram “espatifá” enquanto outros os corrigiram para “espatifar”.
banzeqflor:
que bonito ja encam
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Resposta:
Acredito que seja a letra "c"
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