Francisco era mesmo um amarelo infeliz. Depois que ele entrou no estabelecimento, Ricardo encontrou uma
conversa para as noites de lua. Sentavam-se os dois na calçada da venda. Francisco não tinha pai nem mãe.
Não sabia onde eles andavam. Criara-se em casa dum tio em Paulista. Sofrera o diabo o pobre em menino.
Quando tinha doze anos, já ia para a fábrica passar doze horas no fuso. A febre palustre reduzira Francisco
àquilo que ele era, amarelo, magro, um pedaço feio de gente. Fugiu de Paulista porque quem ali não era
operário era resto. Os donos da fábrica só queriam operários. Um deles criava cavalos de raça e diziam que
dava ovo e vinho do porto aos animais. Os cavalos de raça de Paulista gastavam num dia o que cem operários
não comiam. Paulista era uma desgraça. Francisco fugiu para Olinda. A febre fugiu com ele. Ninguém queria
aquele amarelo para trabalhar. Andou de um lugar para outro feito entulho. Até que caiu ali no Seu
Alexandre. Estava contente da vida. Grito por grito, não lhe batia a passarinho. No tempo de lua Ricardo
ficava com o caixeiro mais tempo do lado de fora. O amarelo tinha um jeito especial de contar as suas
histórias.
REGO, José Lins do. O moleque Ricardo. Rio de Janeiro José Olympio, 2011.
Assinale a alternativa correta.
A. Em “Sentavam-se os dois na calçada da venda.”, o pronome “se” indica que os personagens tinham o hábito
de sentarem ao mesmo tempo para suas conversas, o que confere ao verbo uma ideia de simultaneidade, de
sincronia de ação entre os personagens.
B. Em “Criara-se em casa de um tio em Paulista.”, o pronome “se” dá uma ideia de ação reflexiva para o verbo
“criar”, algo feito por si próprio, o que reforça a ideia de abandono e sofrimento vividos pela personagem na
infância.
C. Em “Não sabia onde eles andavam”, o pronome “onde” é indefinido, o que reforça o fato de a personagem
não ter conhecimento sobre em que lugar os pais poderiam estar.
D. Em “Até que caiu ali no Seu Alexandre.”, o pronome “seu” é possessivo e a escolha do termo reflete o grau
de afetividade e gratidão que Francisco tinha por “seu” Alexandre.
E. Em “A febre fugiu com ele.”, entende-se que ele, Francisco, ficou curado ao fugir de Paulista, onde tinha
uma vida de exploração e sofrimento.
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Resposta:
E. Em “A febre fugiu com ele.”, entende-se que ele, Francisco, ficou curado ao fugir de Paulista, onde tinha
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