FANATISMO
Florbela Espanca, in "Livro de Sórur Saudade
Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!
Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
Não vejo nada assim enlouquecida..
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ahl podem voar mundos, morrer astros
Que tu és como Deus: principio e fim...
1. Que caracteristica formal nos diz que o poema trata-se de um soneto?
2. Indique o tipo de rima das duas primeiras estrofes.
3. Na primeira estrofe do poema, quem seria o "tu" a que se refere o eu lírico?
4. No poema, esse "tu" é mostrado de modo bastante idealizado. Como o eu lirico vê esse tu?
5. Ainda na primeira estrofe, o eu lirico faz algumas confissões. Quais são elas?
6. Que sentimento motivou a ocorrência dos fatos confessados?
Soluções para a tarefa
Florbela Espanca, em Livro de Sóror Saudade, escreveu o poema Fanatismo com toda característica de um soneto, trazendo rimas externas em ABBA, ABBA nas duas primeiras estrofes e representando muito bem o Romantismo português na idealização do amor perfeito e impossível. Nas obras, as consequências desse amor sem limites geralmente são trágicas.
Quando o eu-lírico fala sobre o "tu" na primeira estrofe, refere-se à pessoa amada, com a qual sonha perdidamente e não se cansa de ver. Além disso, o eu-lírico confessa que para ela, a pessoa amada já é mais importante do que a própria vida - ou seja, ela está disposta a tirar a própria vida por não ter quem ama.
Essa pessoa idealizada como o "tu" é tida como misteriosa e complexa, e como Deus - o princípio de tudo e o fim de tudo. É como se a pessoa amada fosse uma divindade digna de adoração eterna pelo eu-lírico.
A segunda estrofe detalha que trata-se de um amor platônico, não-correspondido. Ao dizer que "tudo no mundo é frágil, tudo passa...", frases que as pessoas dizem ao eu-lírico, ela indica que as pessoas ao seu redor estão aconselhando-a a esquecer de algo.
Isso pode indicar que o objeto pelo qual o eu-lírico se apaixonou obsessivamente já deve ter tido um relacionamento com ela, mas separou-se, deixando-a ainda desesperada em paixão por alguém que não mais tem. Alguém que ela simplesmente não consegue esquecer e não deseja nem mais viver se não o tiver.
O sentimento que motiva todo o discurso é o mais puro fanatismo, que dá o nome ao poema.