Fale sobre Lavínia Fontana: página (64a65)
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Resposta:
Nasceu na cidade de Bolonha, na segunda metade do século XVI. Numa fama que remonta à Idade Média, Bolonha era conhecida como La Dotta (a erudita), por ser sede da primeira universidade europeia, e La Grassa (a gorda), por conta da opulência de sua gastronomia, reflexo de sua prosperidade e da intensa circulação de pessoas de diferentes origens por suas ruas. Foi neste ambiente intelectualizado e marcado por um forte orgulho local que Lavinia Fontana se formou e se projetou.
Via de regra, a moral do período delimitava com nitidez os espaços que eram apropriados para as mulheres, em geral íntimos e domésticos, à exceção da Igreja e de eventuais trabalhos de caridade. Antes do casamento, a socialização das meninas e moças era bastante controlada, já que danos à reputação poderiam comprometer bons arranjos matrimoniais. Juridicamente, em geral, as mulheres eram impedidas de realizar operações práticas necessárias à gestão de negócios, como firmar contratos e comercializar objetos de grande valor como obras de arte. Não é difícil imaginar os muitos obstáculos que se colocavam ao estabelecimento de uma mulher como artista bem sucedida, capaz de viver do próprio trabalho, fora de espaços como conventos e Cortes. Somente nestes ambientes protegidos e isolados, sempre cercadas de outras mulheres, era possível exercer o ofício de artista. Lavinia Fontana, uma artista que produziu fora destes círculos, teve que usar estratégias específicas para conseguí-lo, e nisso foi pioneira.
Lavinia Fontana não foi apenas uma pintora profissional num período em que isso não era comum, mas também uma celebridade em sua pátria. Era amada e considerada exemplar em suas maneiras, erudição e comportamento. Apesar de não ter origem nobre, casou-se com um homem que elevava seu status social, sendo querida e admirada por nomes como o cardeal Gabriele Paleotti, autor de umas das mais importantes obras a respeito da importância das imagens para o cristianismo após o Concílio de Trento. Ainda, seu nome consta de uma lista de laureadas pela Universidade de Bolonha, publicada em 1666. Embora não tenhamos certeza sobre sua ligação institucional com a universidade, isso certamente significa que foi educada em nível alto o suficiente para que assim fosse vista socialmente. Lavinia Fontana foi capaz não só de prover sua família com seu trabalho, mas o fez sendo uma figura respeitada, acolhida e apoiada pela sociedade de Bolonha.
A formação tradicional de um artista exigia do aluno grande frequência no ambiente masculino do ateliê do mestre, durante períodos longos. Essa prática dificilmente poderia ser considerada apropriada para uma adolescente virginal. Isso explica porque a biografia de Lavinia e de várias outras artistas legadas a nós pelo Renascimento tem em comum a figura do pai artista. Sem sair de casa, a filha de um artista tinha acesso à aprendizagem do ateliê e provavelmente também (ainda que de forma fragmentária) a aspectos práticos do métier, como negociação de preços, gestão de encomendas e formação de clientela.
O pai de Lavinia, Prospero Fontana, foi um dos pintores bolonheses mais importantes de sua geração. A família da mãe de Lavinia, Antonia de Bonardis, possuía uma das mais importantes tipografias de Bolonha no período, o que lhes assegurava trânsito e contato com a intelectualidade ligada a universidade. Prospero não tinha origem aristocrática, mas era um homem habilidoso e conseguiu conquistar uma posição respeitável na cidade. Os Fontana moravam numa grande casa, decorada com esmero numa das ruas mais elegantes da Bolonha quinhentista. O endereço e a qualidade da habitação certamente visavam manter na residência uma frequência importante de acadêmicos de destaque, mercadores abastados e nobres, de forma a garantir uma rede de contatos que propiciasse as encomendas de que o pintor necessitava. Por outro lado, por conta disso seu estilo de vida era bastante custoso. Chama atenção na trajetória de Lavinia que seus primeiros quadros assinados sejam de quando ela já estava com 23 anos, idade um tanto tardia para uma profissão que em geral começava na adolescência. Neste momento, Prospero estava longe do auge de sua carreira. Após o casamento da artista, aos poucos o trabalho de Lavinia se constituiu na fonte de sustento da família, incluindo seus pais, até a morte de ambos. Seu marido, Gian Paolo Zappi, era parte de um dos muitos braços de uma numerosa família nobre de Imola.
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