FAÇA UMA CRÔNICA COM O TEMA INCÊNDIO
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É fatal como o destino. Todos os anos pelo Verão, as matas de Portugal são pasto fácil para as labaredas. As línguas de fogo iluminam a paisagem ao mesmo tempo que o fumo encobre o luminoso sol. As faúlhas caiem do céu quase como chuva, ao mesmo tempo que se multiplicam as cenas de desespero por teres e haveres perdidos, quando não mesmo por vidas ceifadas fora de tempo e sem justificação.
Por estes dias e desta vez então, mais parece pior que nunca. O clima vai tórrido como já não há memória, está tudo ressequido apesar do chuvoso Inverno, e tudo arde que nem palha seca em palheiro velho. A riqueza nacional chamada petróleo verde, consome-se sem deixar proveito causando enormes prejuízos particulares e colectivos. A cena e os erros repetem-se, como se de algo inevitável falássemos.
Daqui a umas semanas, depois de passada a tormenta, mais uma vez far-se-á o balanço que ao costume se apresentará como positivo apesar de tudo, pois sempre se arranja um termo de comparação ao jeito de quem manda. A oportunidade e o tempo de antena, serão então aproveitados para uns senhores com todo o ar de operacionalidade quase marcial, proclamarem aos quatro ventos que para o ano será diferente para melhor.
Nós cidadãos, não acreditamos assim venha a ser. Estamos cépticos, muito cépticos. Sabemos que eles, os responsáveis destas e de outras coisas, sabem que a floresta é um enormíssimo recurso de todos nós, mas nada lhe ligam fora dos meses em que ela pela negativa se faz notar e sentir. O país que pode e manda, desleixa-se e não age. Só se mobiliza aflitivamente nas horas de aperto, para minorar os estragos. Mobilizam-se meios e mais meios para combater o fogo, num verdadeiro esbanjar de forças e de dinheiros públicos, absolutamente evitável caso se respeitasse o ensinamento antigo que diz que mais vale prevenir que remediar.
Por sua vez, os particulares possuidores das parcelas de mata, quase se esquecem que as detêm. Uma grande parte delas, dizem os entendidos, não conhecem os donos, nem deles são conhecidas. São minúsculas e sem interesse imediato, e por isso abandonadas, até que um vizinho mais atrevido, mexa nos marcos indicadores das estremas, que aí mata-se sem olhar a quem conforme exige a honra ofendida e a inveja picada.
Ninguém liga e nem limpa as matas em Portugal, excepto num ou noutro dia para o efeito indicado, mais para se dar a ideia do contrário, do que para efeito devidamente concretizado. Na maior parte dos dias dos anos das nossas vidas, aquilo que contribui em muito para o nosso Produto Interno Bruto, o tal PIB, é absolutamente desprezado. Nem sequer caminhos se abrem, para se facilitar o acesso aos meios de socorro inevitavelmente necessários, pois ao olharmos para um qualquer pedaço de floresta seja onde for, podemos estar certos que a sua vez da consumição pelo fogo é uma questão de tempo.
Restam-nos as lágrimas de crocodilo copiosamente vertidas. Quem dera que fossem como as outras, cristalinas e líquidas como as verdadeiras. Sempre davam para ajudar a apagar este fogo de indiferença que lentamente consome este pobre país que nos coube em sorte termos de deixar aos nossos filhos. Este é o nosso fado.