Faça um comentário crítico sobre o conto O Gato Preto
Soluções para a tarefa
A análise deste conto será feita com três conceitos kleinianos: desejo, medo e defesa.
A personagem que antes era dócil, que tinha um bom casamento e cuidava muito bem dos seus animais, mudou seu temperamento tornando-se irritadiça, agressiva e indiferente aos sentimentos dos outros. Isto é percebido quando o indivíduo começa a fazer uso excessivo de álcool, passando a agir violentamente com sua esposa e animais. Estes fatos indicam a cisão (splitting) que o sujeito faz dos objetos bons e maus, destacando seus impulsos destrutivos e os projetando (splitt off) nos objetos que considera maus, os quais, por sua vez, geram no indivíduo uma angústia paranóide. O sujeito passa a sofrer com alterações bruscas de seu estado emocional e põe a culpa no excesso de bebida, e esta de certa forma torna o homem inconsciente e incapaz de avaliar suas ações. Este grupo de atitudes pode representar seu desejo de destruição.
Ao maltratar o gato, este passou a evitá-lo. Certo dia ao chegar em casa embriagado, o gato visualizou seu dono e fugiu. O sujeito irritado foi atrás de seu animal e ao encontrá-lo arrancou-lhe o olho. Ao cometer essa atrocidade, percebeu-se que ao mesmo tempo em que não tolerava o gato perto de si, também não queria ser desprezado por ele. Portanto, o objeto bom seria o depositário de amor e carinho, enquanto o mau lhe proporcionaria desprazer, fazendo com que o sujeito se sentisse perseguido. Este conceito foi denominado por Melanie Klein de ansiedade persecutória.
Após este fato, o gato passou a evitar seu dono ainda mais, causando neste uma ira maior a qual culminou em uma tentativa de enforcamento do animal.
Na noite após o enforcamento, sua casa incendiou-se e a única coisa que restou foi uma parede situada no meio da casa, referente ao local onde ficava a cabeceira da cama. Ao se aproximar desta parede ele viu gravada em baixo relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco, com uma forca desenhada no peito e sem um olho; exemplificando o sentimento de perseguição do objeto mau que ele havia atacado. Esse é o primeiro elemento sobrenatural da história. Ele fica horrorizado com o que vê e supõe que seja uma vingança macabra do animal (ansiedade persecutória).
Alguns segundos depois, recuperada a razão, ele cria uma explicação racional para o ocorrido. O gato, pendurado no galho, foi jogado para dentro de seu quarto por alguma pessoa, numa tentativa de “despertá-lo”. Essa expressão possui duplo sentido, pois ao mesmo tempo em que faz com que ele acorde antes de morrer queimado, faz também com que o narrador assuma, por um breve momento, a consciência o seu crime e perceba que cometera uma atrocidade. Meses após o crime, tendo o gato ainda como um fantasma, que não conseguia esquecer, o narrador passou a ir, freqüentemente, em seu bar favorito e lá surge um gato preto muito semelhante a Pluto.
Este novo gato provocou os mesmos sentimentos no sujeito e assim como Pluto, o gato começou a irritá-lo. A raiva aumentou ainda mais a partir do momento em que percebeu que, assim como Pluto, o gato também não tinha um olho. Este gato tinha uma marca branca no peito que com o passar do tempo deixou de ser percebida como disforme, mas identificada como a imagem de uma forca. A mancha branca em forma de forca mostra o quanto as fantasias inconscientes do sujeito deturpavam a sua percepção da realidade.
Num momento de ira ele decidiu matar o gato, a esposa interveio e tornou-se vítima de um assassinato. Não se importando com a morte de sua mulher, ele mostrou-se mais preocupado em desfazer-se do corpo, pensou em cortá-la em pedacinhos (splittting), mas, por fim, decidiu “enterrá-la” na parede.
Com o sumiço do corpo, o narrador decidiu procurar a única testemunha de todo o episódio – o gato -, mas não o encontrou em lugar algum. Logo depois se sentiu aliviado e dormiu tranqüilamente.
No quarto dia após o assassinato, devido ao desaparecimento de sua esposa, os policiais vasculharam a casa, visitando cada cômodo. Quando nas proximidades da parede em que a mulher havia sido enterrada, o narrador ironiza as autoridades, dizendo que as paredes da residência são “solidamente edificadas” e depois cutuca o lugar onde enterrou a esposa e todos ouvem um estranho barulho.
Os policiais derrubam a parede encontrando sua a mulher e junto dela, sobre sua cabeça, estava o gato, com a boca aberta.
Neste momento o narrador identifica explicitamente o gato como uma figura maléfica, dizendo que este fê-lo assassinar sua esposa e que, portanto, o condenara ao aprisionamento e morte. Havia sido projetado no gato a sua destrutividade.
Assim, por meio da leitura do conto e dos aspectos teóricos analisados, as atitudes e indícios do protagonista levam a concluir que o mesmo encontra-se na posição esquizoparanóide, denominada por Melanie Klein como a primeira fase de desenvolvimento.