Explique a importância do café no processo de industrialização brasileira.
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Se tomarmos o processo histórico a que passou a economia brasileira, observaremos que a entrada do café data do começo do século XVIII. A despeito disso, ganha notoriedade econômica para o governo e o mundo apenas na segunda metade do XIX, por volta de 1860.
Assim como em todas as economias nacionais, a brasileira fora submetida a ciclos econômicos: encerrados os ciclos do açúcar e do ouro, iniciou-se o ciclo do café, que puxou a economia brasileira da metade do século XIX até, ao menos, 1929, ano da Grande Depressão. Esse ciclo se não impulsionou a nossa industrialização certamente centralizou ao seu redor as pré-condições (como acumulação de capital, atividades comerciais internas mais conectadas etc.) que esse processo de modernização econômica demanda. Afinal, é preciso que se acumule capital para que se dê o salto rumo à industrialização. Ao que parece portanto, a relevância do café não se restringe a um aspecto cultural, como o nosso cafézinho de todo o dia: ela vai além, fazendo-se presente inclusive na transformação de nossa economia agrária em uma economia capitalista à medida que a expansão cafeeira está relacionada de alguma forma à incipiente industrialização. Por exemplo, conforme se intensifica a expansão cafeeira a renda interna da economia se eleva, potencializando, ainda que de maneira tímida no início, um mercado interno de consumo a ser abastecido tanto por importações quanto pela indústria interna de bens de consumo não-duráveis (indústria têxtil, alimentos etc.).
A ideia de que a expansão cafeeira relaciona-se à industrialização está em Sérgio Silva, economista brasileiro e estudioso do processo de industrialização em nosso país. Segundo o autor, as profundas transformações no setor cafeeiro observadas a partir da segunda metade do século XIX sinalizam de alguma maneira que a economia e a sociedade do país iniciaram seu processo rumo ao capitalismo. Desse modo, tanto a expansão cafeeira quanto a industrialização seriam "estágios da transição capitalista no Brasil". É nesse sentido que afirmamos ser o café um marco no processo histórico brasileiro de formação da economia nacional: ele está na origem e arraigado em nossa formação capitalista, o que explica tanto sua importância econômica quanto sua popularidade nos bares e cafés que cortam o país de norte a sul. Além de Silva, outro economista percebeu a relevância da expansão cafeeira no desenvolvimento capitalista brasileiro. Para Celso Furtado, um dos maiores economistas brasileiros do século XX, "Dificilmente um observador que estudasse a economia brasileira pela metade do século XIX chegaria a perceber a amplitude das transformações que nela se operariam no correr do meio século que se iniciava." É com essa frase que se inicia um dos capítulos de seu célebre livro, Formação Econômica do Brasil, marco da História Econômica brasileira e referência até hoje nas universidades e faculdades dos melhores cursos de economia do país. Para o nosso propósito, o encerto do vigésimo capítulo demonstra a preponderância do café na formação da economia brasileira à medida que as transformações às quais o autor faz referência recaem sobre o setor cafeeiro. Segundo Furtado, o Brasil até o momento não havia incorporado as técnicas de produção originadas na Revolução Industrial, o que impedia dinamizar a economia pelo mercado interno e, mais grave, empurrava naquele momento histórico específicoa atividade econômica para o comércio internacional de mercadorias, aprofundando os laços comerciais entre as antigas colônias e as velhas metrópoles.
Além disso, com a Revolução Industrial a todo vapor, as jornadas de trabalho sofreram alterações significativas, o que motivou a busca por estimulantes para todos os envolvidos nas produções industriais. O café, naquele momento histórico, cairia como uma luva. E o Brasil soube aproveitar o momento.
Assim, podemos afirmar que o café ganhou notoriedade comercial por uma imposição histórica durante o século XIX e, a partir de então, não deixou de ser relevante em nossa pauta exportadora. Além disso, por compôr a base de acumulação de capital da economia brasileira, pode-se dizer que o Grande Capital Cafeeiro é o precurssor do Capital Industrial nacional, o que explica sua importância à nação e à formação econômica do Brasil. A popularidade, por sua vez, advém de alguns traços da base sobre a qual apoiou-se esse capitalismo. Traços estes que transcenderam o tempo e aparecem hoje, todos os dias, em nossas xícaras pelas manhãs
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